31 maio 2020

Outono


Um menino empina pipa aproveitando o vento do outono em um dia de frio, onde
todo mundo está recolhido por conta do coronavírus 




Dia de frio esse. 
Venta lá fora 
e a poeira carrega folhas. 
Um menino empina pipa. 
Um redemoinho confunde o vento. 
Na esquina, vai a tarde. 


O céu está nublado. 
O ar esquecido e longe. 


As casas frias fechadas 
na periferia 
parecem mais solitárias. 


Quase ninguém 
assiste ao voo da pipa, 
quase ninguém. 


Um cão fareja o caminho perdido. 
Focinho gelado, 
orelhas caídas, 
olhos tristonhos. 
Inadvertidamente, tomba latas 
em um sonho quase impossível 
de encontrar comida. 


Parece perguntar: 
quem sabe? 
E quem sabe? 


Ninguém, certamente. 


Com poeira nos olhos, 
os planos ficam em redemoinho, 
as portas fechadas. 


Mas não importam os enganos 
nas latas tombadas. 
O sonho voa como a pipa 
na esquina, na rua, na distância. 


A vida também é feita de dias frios. 


O cão caminha. 
Para onde, ninguém sabe.

30 maio 2020

O novo momento da crise


O governador João Dória resolveu ceder às pressões para flexibilizar a abertura
 do comércio e a decisão vai exigir liderança dos prefeitos


O registro da primeira morte por conta do coronavírus em Salto e a pressão mais forte da Associação Comercial e Industrial para a reabertura do comércio, ambas nesta semana, associadas à gestão para a retomada de várias outras atividades, colocam em xeque o comando da cidade, ainda que opiniões sigam divididas. 

A razão principal para esse imbróglio é a decisão do governo do Estado, que anunciou a flexibilização das atividades na quarta-feira (27) e a oficializou nesta sexta-feira (29), surpreendendo quem acompanha o combate ao vírus em São Paulo, já que o governador João Dória (PSDB) sempre defendeu o isolamento. 

Se de um lado existe a preocupação com a falência de empresas pelo tempo parado, de outro há o temor de que a reabertura do comércio faça com que o vírus se espalhe com mais facilidade e o susto da primeira morte na cidade, uma senhora de 63 anos que estava internada desde 22 de abril, reforça esse medo. 

A imagem que fica é que as mesmas pressões que estão em cima do chefe do Executivo de Salto estão também sobre o comandante do governo do Estado e elas são econômicas essencialmente, o que as torna muito maiores e mais poderosas, mas ainda assim é preciso que os líderes não se deixem comandar por essas ações. 

A melhor saída nessa questão é não pender nem tanto ao mar nem tanto à terra, como diriam os navegadores, ou seja: não se pode flexibilizar ao extremo, como deseja boa parte dos empresários e comerciantes, nem manter o rigor do isolamento total, já que existem possibilidades de retomada em alguns setores. 

Além da dificuldade de tomada de decisão, há um detalhe importante que deve ser levado em conta pelas autoridades: a possibilidade de desobediência. As pessoas físicas já não estão obedecendo o isolamento social e as dificuldades econômicas agora podem levar as pessoas jurídicas a não atender as regras. 

A decisão do governo é difícil, mas precisa ser tomada com os olhos atentos para os cuidados com a saúde e com a cautela necessária para não falir empresas importantes para a geração de empregos, sobretudo as micro e pequenas empresas, que são as maiores geradoras de postos de trabalho e as mais prejudicadas. 

Liderar é agir. 


Artigo publicado na seção de opinião do Jornal Taperá de 30-05-2020

29 maio 2020

Como enfrentar a pandemia?

Hoje escolas, professores e estudantes estão descobrindo ou reaprendendo com a substituição das aulas presenciais e essa tendência deverá se manter


Há uma preocupação muito grande em se definir como será a vida depois da pandemia. Existem especulações de todos os lados. O que não se diz é como está sendo a vida hoje. O que temos de fazer para viver esse momento. 

Não é só ficar em casa em isolamento social para quem precisa e pode. Menos ainda na dependência do auxílio emergencial do governo, que não saiu para 2 em cada 3 que pediram. Nem do auxílio às empresas para não demitir. 

Tudo isto é importante para manter a saúde, não se contaminar e garantir algum recurso para fazer valer o sustento da família, mas por quanto tempo e em que condições isto se dará daqui para a frente? 

Por conta do coronavirus, pelo menos 8,1 milhões de trabalhadores já tiveram seus contratos suspensos ou as jornadas e salários reduzidos, o que afeta não só a vida dessas pessoas como a economia dependente delas. 

Se um trabalhador recebe menos, ele gasta também menos, movimentando menos ainda o mercado a que tem acesso, seja na área comercial, industrial ou de serviços, reduzindo, portanto, o número de empregos nesses locais. 

Os dados do governo federal dão conta de que houve redução de jornada e salário de 50% para 1,4 milhão de trabalhadores, de 25% para 1,1 milhão e de 70% para 991 mil. O setor de serviços concentra mais de um terço disso. 

Nesse cenário o trabalhador precisa se preparar para enfrentar a pandemia hoje, não depois que ela passar. Todos os segmentos estão mudando de estratégia para se garantirem agora e após o problema dessa contaminação. 

E um dos grandes dramas que serão vividos por todos os trabalhadores daqui para frente é a questão dos direitos. Trabalhando em home-office as empresas descobriram que podem ter empregados de qualquer lugar do mundo. 

Mais que isto: não precisam gastar um dinheiro bastante alto com o pagamento de férias, 13º salário, INSS, FGTS, vale-transporte, vale alimentação e tantos outros direitos que hoje são um peso consideravelmente grande na folha. 

O trabalhador precisa se qualificar para esse mercado e precisa se disponibilizar para ele. As empresas se norteiam agora, mais do que nunca, pela sobrevivência. E serão cada vez mais digitais, sustentáveis, ágeis, enxutas e flexíveis. 

Há novos mercados que estão se abrindo, seja para quem tem boa formação, como na área de finanças, agora uma demanda grande das pessoas, até para quem não tem, como no comércio eletrônico, que requer entrega. 

Esses mercados passam também pelo entretenimento. Tão cedo não se verá mais eventos apinhados de gente, como cultos, festas, shows, casas noturnas, cinema. Mas já há iniciativas nessa área onde as pessoas vão de carro. 

Enfim, existem muitas oportunidades, mas existem também grandes dificuldades e competitividades. Algumas profissões e funções vão deixar de existir. As mudanças são necessárias para a readaptação do mercado. 

O governo do Estado acaba de anunciar que o Poupatempo, seu serviço de maior excelência, deixará de funcionar nos moldes atuais, afinal tudo já se faz por internet e não tem sentido manter uma estrutura física. 

Os supermercados estão investindo em profissionais que consigam fazer uma boa compra para o cliente distante, muito mais do que manter repositores de prateleiras e os responsáveis por estoques também não serão os mesmos. 

As empresas já estão repensando se devem fazer viagens, reuniões e treinamentos presenciais. Tudo passa a ter mais relevância à distância e com custos menores. A criatividade para encontrar mecanismos novos é fundamental. 

Não é só nas empresas: o ensino à distância também passou a ser uma alternativa para instituições desse setor. Hoje escolas, professores e estudantes estão descobrindo ou reaprendendo com a substituição das aulas presenciais. 

O mundo que está sendo construindo a partir dessa pandemia será um mundo muito diferente. Diferente na aparência, na forma se processar e nos resultados. Mas temos de fazer dele um mundo melhor, apesar de tudo.

28 maio 2020

O futuro é um muro alto

Ninguém sabe o que o futuro nos reserva: poderemos quebrar a casca do ovo e sermos engolidos por uma raposa faminta ou poderemos virar uma nova vida ou nem quebrar a casca 


Nesses tempos de pandemia, várias vezes somos levados a fazer reflexões sobre a vida, sobre as pessoas e sobre Deus e seus desígnios na tentativa vã de conhecer o futuro. 

Mas o que vai acontecer é um mistério impenetrável. 

Outro dia um vidente foi alvo de risos quando se verificou que suas previsões, de que este seria um ano mais leve e cheio de oportunidades, não se confirmaram. 

Muita coisa dá certo quando se faz previsões, mas nem aquelas baseadas em dados técnicos são certeiras sempre. O erro ocorre exatamente quando se dá o imponderável. 

Ninguém imaginava, por exemplo, que o coronavírus causasse o que causa. Sequer se tinha um vírus dessa natureza na alça de mira há bem pouco tempo atrás. 

Se não temos nenhuma certeza garantida, não podemos também desistir de planejar ou desistir de persistir. Ambas as ações são fundamentais para se chegar ao sucesso. 

Devemos sim planejar para sabermos o que poderemos realizar e em que condições. Se houver imprevistos, como o coronavírus vem sendo para todos, replanejamos. 

A persistência é o que garante que possamos acertar em algum momento. Se não estivermos insistindo, não saberemos nunca quando é o momento ideal. 

Outra coisa necessária é a atenção aos movimentos do mundo. Não é a oportunidade que muda o rumo dos negócios, mas estar preparado para ela. 

Agora mesmo, quando o coronavírus atrapalhou completamente a vida de todos, muita gente está ganhando com novos negócios criados a partir da demanda por serviços online, que surgiu e se consolida. 

Nem tudo dá para vender por internet, mas o que não dá deve ser adaptado. Magazine Luiza, Americanas e vários outros dão o exemplo com suas plataformas de apoio. 

Se os produtos que vendiam não têm a mesma saída pela internet – e até têm boa saída -, eles então vendem os produtos de outros e fazem a intermediação. 

Ninguém sabe o que o futuro nos reserva. Poderemos quebrar a casca do ovo e sermos engolidos por uma raposa faminta ou poderemos virar uma nova vida promissora. 

Também poderemos nem quebrar a casca. 

Por isso temos de nos aventurar. Não importa quais sejam os desafios, os inimigos e todo o medo que dá. 

Que mantenhamos a atitude sempre.

27 maio 2020

Um elogio muda a vida

O elogio sincero eleva a alma à condição de alguém acima das
dificuldades da vida, mas nunca se pode esquecer de se manter os pés no chão


Conheci um jovem advogado, certa vez, que me surpreendeu pela habilidade com a comunicação. 

Não que isto seja uma capacidade incomum para advogados, mas é o que se espera da minha profissão de jornalista e profissional de marketing. 

Advogados, normalmente, focam no conhecimento das múltiplas brechas que a legislação possui para acionar e vencer processos para os seus clientes. 

Esse advogado não se descuidava das oportunidades das letras da lei, mas ia além. Todos se encantavam com ele e o ajudavam em retribuição. Fiquei curioso para saber o segredo dele. 

Observando-o descobri que ele sabia usar como ninguém o elogio. Sempre achava um jeito de destacar um detalhe do outro. 

Não eram elogios forçados ou baratos. Falava com simplicidade. Sempre a partir de uma frase: o senhor me ensinou a ser melhor com essa aula de direito ou a senhora fez a diferença na defesa do réu. 

Perguntei onde aprendeu essa habilidade. Ele me disse que se casou com uma mulher brava.

“Tive de encontrar o melhor caminho para agradá-la. No começo foi isso. Depois percebi a cada dia as qualidades dela. A partir daí os elogios brotavam". 

Um grande exemplo de como usar as dificuldades pessoais como aprendizado para a vida. 

Se olharmos bem, vamos sempre encontrar motivos para elogios também e eles melhoram qualquer relação, por pior que seja.

26 maio 2020

A cobertura jornalística do governo

Apoiadores do presidente têm amparo do Palácio do Planalto para agredir 
jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada - Foto Gabriela Biló/Estadão Conteúdo 


As autoridades responsáveis por fazer cumprir a Constituição Federal, caso dos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), precisam agir em razão do quadro criado pela decisão da Folha, Globo, TV Band e Metrópolis e todos os segmentos ligados a eles de não enviar mais jornalistas para acompanhar o dia no Palácio da Alvorada. 

A retirada dos profissionais ocorre em virtude da falta de segurança para a realização do trabalho, provocada com a anuência e o incentivo da Presidência da República, já que há insistentes ataques partindo do próprio chefe do Executivo contra a imprensa e a colocação muito próxima e cada vez maior de claque para dar volume à hostilização. 

Governos que não garantem ou trabalham contra a liberdade de imprensa atuam de forma antidemocrática e esta é uma característica de países com regimes ditatoriais ou que caminham para isto. É em razão desta situação que o STF precisa agir, a fim de evitar que o Brasil ingresse de novo nos tempos da ditadura que o afetou por 20 anos. 

Há quem defenda que os veículos não deveriam retirar os profissionais da cobertura, posto que é isto o que o presidente e seus seguidores desejam, mas não se pode expor profissionais que só realizam o seu trabalho a situações de risco à sua integridade física e psicológica, sobretudo porque a imprensa tem o direito de atuar livre. 

Quem ingressa na vida pública e não consegue absorver as críticas da imprensa ou a cobertura que ela lhe dá, não deve continuar na vida pública, pois a exposição inerente à atividade não pode ser impeditivo para o equilíbrio do agente nas suas funções e não pode ser também combustível para ataques covardes como o do Palácio. 

É claro que esta condição de direito à liberdade de imprensa e de valorização da democracia não dão garantia a nenhum veículo ou profissional de comunicação de agir movido por paixões políticas ou interesses pessoais e econômicos ou políticos, já que aí estarão subvertendo a ordem e o que a Constituição Federal tenta garantir. 

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reclama com veemência da cobertura e da abordagem dos veículos que decidiram deixar a cobertura do Palácio da Alvorada por falta de segurança, principalmente Folha e Globo, mas quem deve dar ou tirar a sua razão é o Judiciário, fórum para a discussão de divergências desse tipo. 

Se há excessos dos jornalistas ou dos veículos que eles representam, eles devem ser punidos com o rigor da lei. Mas e quem pune os excessos do inquilino do Planalto? É preciso que as autoridades responsáveis pela defesa do cumprimento da Constituição Federal façam a resposta a essa pergunta ser palpável, democrática e rápida. 

Com a palavra o STF.

25 maio 2020

Eleições deste ano devem ser adiadas

Existem muitas propostas para resolver o impasse criado pela pandemia,
mas a suspensão da eleição ou a unificação com a presidencial em 2022 são inviáveis


Ainda não há definição sobre a realização ou não de eleições neste ano. A pandemia comprometeu todos os prazos para o cumprimento da legislação. As regras estabelecidas não puderam vigorar. Qualquer hipótese agora terá de reconsiderar essa programação. 

Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vão criar uma comissão de senadores e deputados para avaliar as propostas em discussão e tentar encontrar o melhor caminho diante dessa situação confusa e crítica. 

Existem várias propostas e não param de chegar novas, mas a decisão mais sensata a ser tomada é o adiamento. Alguns dirão: por que não cancelar? Não, porque o pleito é fundamental para a renovação dos detentores do poder. Cancelar as eleições é antidemocrático e perigoso. 

O Brasil já viveu uma situação de adiamento de eleições exatamente com a tentativa de fugir da renovação. Foi em 1980. Na época, o governo Figueiredo temia o crescimento da oposição, que já vinha ocorrendo desde 1974. Alegou-se falta de tempo e os mandatos foram prorrogados até 1982. 

A alegada falta de tempo se baseava na reforma partidária de 1979, que permitiu a existência de mais partidos além de Arena e MDB, os únicos da época da ditadura. Nessa época surgiram o PT, PDT e Partido Popular, além de ter sido recriado o histórico PTB. 

O surgimento da oposição com mais força, ainda que tenha havido a prorrogação de mandatos, acabou pressionando para a redemocratização e o fim da ditadura. Um país precisa ter situação e oposição sempre em disputa e com condições de vencer para se chegar ao melhor. 

Entre as propostas de adiamento, a que ganhou força nos últimos dias é de emenda constitucional do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que prevê levar o pleito de 4 e 25 de outubro para 6 e 20 de dezembro, sem que haja prejuízo aos mandatos dos atuais prefeitos e vereadores. 

Essa medida é a que tem mais viabilidade por ser intermediária, ainda que enfrente dificuldades. A realização do segundo turno em 20 de dezembro deixa pouco tempo para recursos ou impugnações antes da posse. É bom lembrar que os eleitos devem assumir em 1º de janeiro. 

Há uma proposta do deputado federal Paulo Guedes (PT-MG), que tenta consertar isso realizando turno único dia 13 de dezembro. Nas cidades onde haveria dois turnos, os eleitores escolheriam o seu candidato e um segundo colocado e venceria a eleição quem somasse mais votos. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defende como alternativa à proposta de Randolfe Rodrigues que o primeiro turno ocorra em 15 de novembro e o segundo em 1º de dezembro para dar tempo de se fazer a prestação de contas e também eventuais recursos ou impugnações. 

Por fim, o hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) propõe unificar as eleições de prefeitos e vereadores com as de presidente, senadores e deputados em 2022. Outra proposta ainda defende que os mandatos atuais sejam encerrados e que os juízes eleitorais assumam. 

Qualquer que seja a decisão a ser tomada pelo Congresso Nacional e referendada pelo Superior Tribunal Eleitoral significará que não poderá haver volta. O adiamento mantém as regras e apenas ajusta a situação em virtude da pandemia, garantindo a realização do pleito. 

É o melhor caminho.

24 maio 2020

Quem toca o nosso coração?

Neste momento de pandemia é preciso entender o que vai no
coração do outro para garantir uma comunicação mais efetiva 


Hoje se comemora o Dia Mundial da Comunicação, uma data importante para nós que somos do meio e me arrisco a dizer: para todo mundo, sem distinção. 

Nesses tempos diferentes por conta da pandemia, falar em comunicação é falar em muito mais do que levar uma mensagem. A comunicação hoje se tornou um tesouro ainda maior. 

Empresas estão aprendendo a se comunicar de outras maneiras, grandes marcas estão reaprendendo a importância do cliente e fundamentalmente nós, os comunicadores, estamos vivendo de uma forma nova de comunicar usando velhos meios.

Tudo porque um vírus mudou as relações. 

Neste momento, eu tenho certeza de que caiu ou pelo menos perdeu força no seu significado a máxima de que "Comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende". Agora muito mais que isto comunicar é sensibilizar o outro.

É pelos sentidos que nos comunicamos e percebemos a comunicação dos outros. 

Se formos tocados pela emoção do que se fala, seremos fisgados pela comunicação. 

Em tempos de pandemia, quem souber tocar o coração das pessoas, fará muito mais sucesso. Afinal, estamos fechados para o mundo. 

Nada melhor para isso do que usar bons comunicadores e bons publicitários. Feliz Dia Mundial da Comunicação a todos nós.

23 maio 2020

O aumento da violência doméstica na pandemia


Registros do Conselho Municipal Antidrogas de Salto mostram aumento
de 51% no número de agressões praticadas contra mulheres na quarentena


Na edição deste sábado, Taperá traz um dado bastante preocupante para esse momento de pandemia: o aumento do número de casos de violência doméstica em virtude do isolamento social. De acordo com os dados do Conselho Municipal Antidrogas, entre janeiro e maio deste ano o número de casos chegou à média de 1,38 por dia, 51% acima do registro no mesmo período em 2019, que estava em 0,91 ocorrência por dia.

O mais grave é que o órgão avalia ainda que grande parte das ocorrências não entrou nessa estatística por ausência de denúncia formal junto à autoridade policial devido ao medo do agressor. Afinal as vítimas estão presas em casa com o seu agressor e não têm alternativa para escapar da violência, seja em termos de lugar para onde ir, seja pelas condições financeiras para viver nessa situação de pandemia.

O Poder Público e as autoridades judiciárias não podem passar ao largo desta situação, tendo em vista que essas mulheres agredidas em geral são mães e muitas crianças estão assistindo essa violência. O trauma de uma agressão, mesmo que apenas verbal, fica para sempre, ainda que haja acompanhamento e tratamento. O que se dirá para uma criança, que ainda não compreende exatamente o que está acontecendo?

Entende-se que é difícil para o Poder Público e para as autoridades judiciárias agirem nessa situação, já que é necessário que o caso chegue ao conhecimento deles e o medo tem evitado as denúncias e também, com a pandemia, é necessário levar em conta ainda a sobrevivência da mulher e dos filhos nessa situação, mas é possível sim criar condições para minimizar esse problema e amenizar a dor dessas vítimas. 

Uma maneira seria a Prefeitura criar um abrigo temporário para essas mulheres e filhos com assistência multiprofissional para reparar o dano causado pela violência e reencaminhar essas pessoas para a vida. Ao mesmo tempo instrumentalizar melhor a Guarda Municipal para agir contra o agressor no sentido de retirá-lo do convívio com essas vítimas, para preservar a todos, elas da violência e ele de fazer o pior.

Mas esse homem não deve apenas ser preso e responder pela agressão, já que o fato de ser homem não lhe dá o direito de agir com violência nem com a mulher nem com os filhos. Este homem deve ser tratado como uma pessoa doente que precisa recuperar-se. Precisa de tratamento psicológico para compreender o que está fazendo e a importância de rever os seus conceitos para conviver em sociedade.

Isto é o mínimo.


Artigo publicado na seção de opinião do Jornal Taperá de 23-05-2020.

22 maio 2020

Ano passado eu morri


Parte da lateral do carro envolvido em acidente com um caminhão 
e dois carros em 2014 na Rodovia do Açúcar, trecho próximo à cidade de Itu


Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro. Ouvi esta frase em uma música de Belchior. Acho-a muito apropriada ao que vivi durante o ano passado. 

Por conta de uma série de situações estressantes, tive problemas de coração. O meu médico me disse que eu viveria só até outubro de 2019 se não fizesse uma cirurgia. 

Após vários exames para verificar se estava em condições ideais para a intervenção, além da necessidade que tinha, consegui ser operado em Campinas e me salvei. 



Escapar de uma situação de morte já havia me acontecido antes por cinco vezes. 

A última antes do ano passado tinha sido no ano anterior, em acidente de carro. 

Uma noite, dirigia pela Rodovia do Açúcar, vindo de Sorocaba, quando uma caminhonete, com abelhas africanizadas, parou na pista do nada na minha frente. 

O motorista disse depois ter achado que algumas abelhas haviam invadido a cabine dele. Ele abrira o vidro traseiro para ventilar-se devido ao calor intenso. 

O medo de ser picado e morrer paralisou aquele homem simples e a total imprevisibilidade disso acontecer em uma pista de alta velocidade me fez quase bater na sua traseira. 

Ao ver a caminhonete crescer na minha frente, desviei para o acostamento e acabei chocando o carro que dirigia na lateral direita dela em um grande impacto. 

O choque rachou o radiador e arrancou a bateria. O para-brisa quebrou e a porta do lado do motorista foi amassada a ponto de não abrir. Andei 100 metros como passageiro. 

Apesar do impacto e do susto pelo qual passei, não sofri nenhum arranhão. Tudo que havia dentro do carro foi ao chão. Fiquei duas horas esperando o seguro no escuro. 



Estive a ponto de morrer em acidente de carro na mesma rodovia do último e em dois de moto na Santos Dumont e em Campinas e em um afogamento, em Salto. 

No anterior ao das abelhas, em 2014, o choque foi com um caminhão e dois carros. Era noite, voltava de São Paulo e fui atingido pela guarnição de carga de um caminhão. 

Próximo a Itu, a peça de ferro se soltou em parte e enganchou na porta do passageiro. Rasgou a lata e se soltou com o movimento. Mas rodopiou o carro na pista. 

Fiquei atravessado no meio do caminho. Um carro logo atrás bateu na lateral dianteira esquerda. Rodopiei e parei atravessado de novo, agora de frente para o outro lado. 

De novo outro carro que vinha atrás bateu, desta vez na minha lateral dianteira direita. O carro voltou a rodopiar e parar atravessado de frente para o lado anterior. 

Por pouco um terceiro carro não bateu na minha porta. Vinha em alta velocidade, mas freou a um metro de mim. Salvo, respirei fundo, liguei o carro e tirei-o da pista. 

Nenhum dos motoristas que se envolveram no choque parou para prestar socorro. 

Felizmente, não sofri nada. Um motoqueiro quis ajudar. Preferi esperar o seguro. 



Os acidentes de moto aconteceram quando voltava de Campinas, onde trabalhava na Folha de São Paulo. O primeiro foi em 1993 e foi o mais grave e inesperado. 

Motorista de carro não respeita quem anda de moto, então eu ia margeando o acostamento na rodovia. A intenção era evitar ficar na frente e acabar sendo atingido. 

De nada adiantou, pois o motorista que me atingiu estava bêbado. Ele perdeu o controle, bateu no guard-rail central e veio se chocar contra a traseira da moto. 

O choque me arremessou para depois da vala de escoamento de água na lateral do acostamento. Cai de costas, rasguei o ombro e depois rolei de frente. 

O corte no ombro foi de oito pontos e raspei tanto o queixo no chão que acabou essa parte do capacete. Depois fiquei imóvel esperando o socorro e ouvindo: “Esse já era”. 

Esse acidente aconteceu na Rodovia Santos Dumont, na saída de Campinas. O outro em 1994 foi na Via Expressa Waldemar Paschoal, próximo ao Hospital Mário Gatti. 

Voltava para casa por volta de meia-noite e chovia continuadamente. Não havia ninguém na pista. Eu estava na via mais rápida e veio um carro atrás dando sinal de luz. 

O motorista queria que eu saísse da frente próximo a uma curva, onde pegaria a Avenida Prestes Maia. Não saí com medo de cair e ele se irritou, ultrapassou e me fechou. 

Ao frear para não bater, a moto derrapou e eu caí na pista rolando várias vezes até parar batendo a cabeça. A moto escorregou para o outro lado da pista. 

Demorou para que eu conseguisse recobrar as forças e levantar. Apanhei a moto, que estava toda danificada, mas funcionava. Subi e segui viagem. O motorista tinha fugido. 



O afogamento aconteceu na minha adolescência ainda, em 1980. Eu e um grupo de amigos que estavam sempre juntos fomos nadar na represa do ribeirão Piraí. 

Esse manancial é o maior abastecedor de Salto e tinha represa com águas profundas. A aventura era o nosso norte e aquela situação era a ideal para nós. 

Começamos a saltar no ribeirão e a atravessá-lo de início, o que não era difícil, pois as margens são próximas, mas depois passamos a mergulhar e testar o fôlego. 

Eu nadava razoavelmente. No grupo, a maioria tinha a mesma performance que eu. Felizmente, Genivaldo, o Geni, era diferente. Vivia na água e nadava muito bem. 

Quando eu nadava na parte mais funda, alguém gritou: “Cuidado, aí é fundo demais”. O medo e a insegurança de adolescente me fizeram afundar rapidamente. 

Engoli água enquanto afundava e subia novamente e morreria, se não tivesse sido salvo. Geni pulou na água e me jogou para a margem, onde agarrei arbustos. 

Ainda estava assustado e com muita água no organismo, mas fiquei firme. Geni se recuperou do esforço. Depois me puxou para fora do ribeirão. Vomitei a água e me salvei. 



O funileiro que tentou tirar os amassados do meu carro após o acidente de 2018 me intrigou: “A gente conserta carros e objetos, mas quem conserta a gente é Deus”. 

Ele afirmou que eu deveria ter sete vidas como um gato. Mas, se tenho, já gastei seis. Na época eram cinco vidas já perdidas. E aquele funileiro me deu um vaticínio. 

“Se ele te salvou da morte tantas vezes como você me disse, é porque tem uma missão para você. Preste atenção que os sinais virão e você terá de cumprir essa sina”. 

Nossa vida é feita de ciclos. Iniciamos vários ao mesmo tempo. Terminamos uns, outros não, alguns ficam pela metade às vezes. Não é só a morte que quebra ciclos. 

Viver não é fácil, já dizia o poeta e eu aprendi isso muito cedo. Por isto, agora inicio um novo ciclo e este é para cumprir a missão divina como me disse o funileiro. 

Eu não sei qual é essa missão e nem tenho medo do que seja, mas eu quero fazer as pessoas felizes e a primeira sou eu. Agora é você. Sorria, pois eu estou te filmando.  


Esta é a música de Belchior: "Sujeito de Sorte"

16 maio 2020

A arrastada duplicação da Rodovia do Açúcar


Trecho em obras da Rodovia do Açúcar, entre Salto e Capivari, que vem 
sendo duplicada pela concessionária Rodovias do Tietê desde 2009
 


É inegável que a pandemia provocada pela infestação do coronavírus afetou gravemente todos os setores da economia, ainda que alguns estejam ganhando com a nova realidade. Mas há setores imprescindíveis que deveriam merecer uma atenção maior das autoridades, como as obras de duplicação de estradas importantes como a Rodovia do Açúcar. 

Neste caso em particular, a pandemia nem deveria ser utilizada como desculpa para o atraso, já que a obra se arrasta, sem razão plausível alguma, desde o segundo semestre de 2009. A empresa responsável, a concessionária Rodovia do Tietê, concluiu até agora, pasmem, apenas 10% de todo o cronograma e não tem perspectivas de mudar isso cedo. 

Taperá traz na edição deste sábado a memória do acidente entre dois caminhões que levou à morte um dos motoristas. Curiosamente, eles bateram seus veículos em frente ao canteiro de obras da empresa. De acordo com a assessoria de imprensa da Rodovias do Tietê, as obras não avançam por causa dos cuidados de isolamento do coronavírus. 

Ora e que razões motivaram a demora entre o segundo semestre de 2009 e este ano, quando não havia a contaminação desenfreada dessa pandemia ameaçando a vida de todo mundo? Ressalte-se aqui que o pedágio vem sendo cobrado desde lá, o que beira o absurdo, já que se recebe antes da obra e o pior: não se realiza a obra necessária. 

A concessionária deveria investir nas obras que demandam a rodovia desde quando assinou o contrato e só receber o benefício da tarifa do pedágio depois como ressarcimento dos investimentos. Este é o princípio da privatização de rodovias, afinal, se fosse para cobrar pedágio e investir conforme desse, o próprio Estado, com toda a sua ineficiência, faria. 

Senhores, esta situação é inaceitável e precisa da ação dura das autoridades, ainda que haja uma pandemia em curso e que haja um contrato que garante certo conforto para a empresa. Não dá para deixar a coisa ao Deus dará como se dizia antigamente, como se nenhuma necessidade houvesse ou como se nenhuma vida se perdesse com isso. 

São muitos acidentes, são prejuízos financeiros de monta, são mortes que levam sonhos e que destroem famílias. Isto é sério. Não se pode se esconder na pandemia para justificar corpo mole, falta de ação, menosprezo com o dinheiro público de antes dela. O Ministério Público, os vereadores, os prefeitos, os deputados precisam ver isto. 

É responsabilidade de todos. 


Artigo publicado na seção de opinião do Jornal Taperá de 16-05-2020

03 maio 2020

Vencer depende de nós

Ayrton Senna levanta o troféu de vencedor da corrida do Japão e do
Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988, seu primeiro título mundial



Sempre disse aos meus filhos duas máximas que pratico na minha vida em todos os campos: 1) nunca seja igual a ninguém, crie o seu próprio estilo, seja você e 2) dedique-se para aquilo que quer, foque na sua meta, seja persistente nisso e conseguirá ser um sucesso. 

A primeira máxima me ocorreu, na verdade, para driblar uma situação que enfrentei desde menino: a dificuldade financeira. Minha filha, a mais velha da dupla que tenho, vinha da escola, toda chorosa para mim, dizendo que todos tinham mochila da hello kitty e que ela queria uma. 

Como não podia comprar, saquei a máxima na hora e expliquei a ela a beleza que existe em criar um novo estilo, uma coisa nova, em ser única. Ela aprendeu rapidamente em virtude da capacidade que tem de ser criativa. Nunca a falta dessa mania foi motivo para tristeza ou lamentações. 

A segunda surgiu quando meu filho disputava campeonatos de futebol de salão. Ele temia o fracasso e achava que boa parte do fracasso do seu time seria atribuído a ele por ser o goleiro. Eu disse a ele que alcançaria o sucesso se tivesse foco na sua meta. 

Nos dois episódios eu fui feliz com os resultados, mas apenas experimentava aquelas máximas. A vida é assim: temos de nos aventurar. Lançar as sementes e fazer com que frutifiquem. O que faz o resultado positivo é a nossa crença de que podemos e somos únicos em todo o mundo. 

A Globo acaba de reapresentar a corrida final do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988, exatamente o ano em que minha filha nasceu. Sempre fui um fã da Fórmula 1, mas hoje descubro que era um apaixonado mesmo pela liderança que Senna tinha naquela época. 

Depois dele não apareceu mais ninguém que me fizesse acordar de madrugada para ver uma corrida. Não apareceu mais ninguém que me fizesse ficar na frente de uma tevê sem fazer mais nada, a não ser apreciar o triunfo da perseverança, do foco e da paixão de alguém único. 

Senna era um líder nato, focado, preparado e dedicado à vitória. Ele sabia das suas capacidades e as explorava ao limite. Tenho orgulho de ter feito isto, a exemplo dele, mas sem ser igual, com meus filhos. Hoje os dois venceram em suas carreiras e continuam vencendo na vida. 

Também tenho orgulho de não ter sido igual a todos, de ter inventado o meu próprio estilo. Lembro que trabalhei no jornal Cruzeiro do Sul, em Sorocaba, no início da carreira e sai de lá para trabalhar na Folha de São Paulo. Mais de 20 anos depois voltei ao Cruzeiro e reencontrei todos lá. Ninguém havia se aventurado como eu. 

Considero que fui feliz nessa jornada, porque aprendi e conheci muita gente e muita coisa. A vida é uma viagem que temos de fazer apreciando a paisagem e os passageiros que nos acompanham ou que se encontram conosco. Do contrário, seríamos como um móvel que anda.