03 maio 2020

Vencer depende de nós

Ayrton Senna levanta o troféu de vencedor da corrida do Japão e do
Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988, seu primeiro título mundial



Sempre disse aos meus filhos duas máximas que pratico na minha vida em todos os campos: 1) nunca seja igual a ninguém, crie o seu próprio estilo, seja você e 2) dedique-se para aquilo que quer, foque na sua meta, seja persistente nisso e conseguirá ser um sucesso. 

A primeira máxima me ocorreu, na verdade, para driblar uma situação que enfrentei desde menino: a dificuldade financeira. Minha filha, a mais velha da dupla que tenho, vinha da escola, toda chorosa para mim, dizendo que todos tinham mochila da hello kitty e que ela queria uma. 

Como não podia comprar, saquei a máxima na hora e expliquei a ela a beleza que existe em criar um novo estilo, uma coisa nova, em ser única. Ela aprendeu rapidamente em virtude da capacidade que tem de ser criativa. Nunca a falta dessa mania foi motivo para tristeza ou lamentações. 

A segunda surgiu quando meu filho disputava campeonatos de futebol de salão. Ele temia o fracasso e achava que boa parte do fracasso do seu time seria atribuído a ele por ser o goleiro. Eu disse a ele que alcançaria o sucesso se tivesse foco na sua meta. 

Nos dois episódios eu fui feliz com os resultados, mas apenas experimentava aquelas máximas. A vida é assim: temos de nos aventurar. Lançar as sementes e fazer com que frutifiquem. O que faz o resultado positivo é a nossa crença de que podemos e somos únicos em todo o mundo. 

A Globo acaba de reapresentar a corrida final do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988, exatamente o ano em que minha filha nasceu. Sempre fui um fã da Fórmula 1, mas hoje descubro que era um apaixonado mesmo pela liderança que Senna tinha naquela época. 

Depois dele não apareceu mais ninguém que me fizesse acordar de madrugada para ver uma corrida. Não apareceu mais ninguém que me fizesse ficar na frente de uma tevê sem fazer mais nada, a não ser apreciar o triunfo da perseverança, do foco e da paixão de alguém único. 

Senna era um líder nato, focado, preparado e dedicado à vitória. Ele sabia das suas capacidades e as explorava ao limite. Tenho orgulho de ter feito isto, a exemplo dele, mas sem ser igual, com meus filhos. Hoje os dois venceram em suas carreiras e continuam vencendo na vida. 

Também tenho orgulho de não ter sido igual a todos, de ter inventado o meu próprio estilo. Lembro que trabalhei no jornal Cruzeiro do Sul, em Sorocaba, no início da carreira e sai de lá para trabalhar na Folha de São Paulo. Mais de 20 anos depois voltei ao Cruzeiro e reencontrei todos lá. Ninguém havia se aventurado como eu. 

Considero que fui feliz nessa jornada, porque aprendi e conheci muita gente e muita coisa. A vida é uma viagem que temos de fazer apreciando a paisagem e os passageiros que nos acompanham ou que se encontram conosco. Do contrário, seríamos como um móvel que anda.