20 agosto 2020

Situação piora para quem já está ruim

Mais pobres do Brasil terão sua situação agravada depois da pandemia
 por falta de ação das autoridades no combate à pobreza, segundo especialistas 


Especialistas fazem uma projeção sombria para o pós-pandemia a quem mais precisa, os mais pobres do Brasil. De acordo com a avaliação, quem estava em uma situação de miséria antes, terá esse quadro agravado. A crise econômica causada pelo novo coronavírus é a razão.

A razão mais imediata, porque a verdadeira causadora do agravamento da miséria é a falta de medidas oficiais. O governo não foi além de ajudas paliativas e pontuais. Pior que isto ainda: usou o auxílio emergencial para fazer campanha visando buscar a sua própria reeleição. 

Quando não, o presidente se limitou a dar declarações desastradas de que todos terão uma vida diferente, muito diferente da que tinham, depois que a pandemia for superada, mas sem dizer claramente diferente em que e em quais proporções para cada um dos brasileiros. 

Infelizmente, faltam políticas públicas que possam garantir um cinturão de assistência aos mais pobres. Durante a pandemia, eles foram os mais afetados por não terem emprego ou o terem perdido. Também porque não puderam fazer o isolamento social e muitos morreram. 

A vida será diferente sim depois da pandemia, mas para essas pessoas ela deverá ficar mais difícil ainda, com o rescaldo da doença para aqueles que sobreviveram, e com a recomposição da vida depois das perdas que tiveram, além da necessidade de encontrar um emprego. 

Essa situação crítica, sobretudo para os mais pobres, é resultado da combinação entre o sistema político, o modelo de desenvolvimento econômico e a educação – ou a falta dela – que são os responsáveis pela geração constante e acelerada de disparidade social. 

O prenúncio dessa crise durante e depois da pandemia foi a classificação alcançada pelo Brasil no relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), criado pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, de sétima entre 189 países analisados. 

No relatório, chama a atenção o fato de o Brasil ter a segunda maior concentração de renda do mundo, ficando atrás apenas do Catar. No Brasil, a fatia dos 10% dos mais ricos concentra 41,9% da renda nacional. O universo do 1% mais rico representa 28,3% da renda, contra 29% do Catar. 

Para a economista coordenadora do relatório, Betina Ferraz Barbosa, o dado sobre a desigualdade não piorou, nem melhorou. “O que é muito ruim, porque já é tão baixo que não tem como piorar”. Mas, curiosamente, os ricos com seu bom desempenho fazem o IDH do país melhorar. 

Com os dados do relatório, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ficou levemente melhor. Na avaliação de 2018 era 0,761 e em 2019, último divulgado, ficou em 0,574. Trata-se de uma melhoria quase insignificante, na avaliação dos especialistas, mas é uma melhora. 

Os mais pobres do Brasil não têm acesso aos mesmos recursos culturais, sociais, físicos e intelectuais que os demais brasileiros. Isto os faz mais alijados e mais prejudicados do que poderiam ou que seriam por conta apenas da desigualdade social pela pobreza material. 

Para combater a pobreza material, o governo deve investir recursos financeiros e precisa de vontade política, mas para a diminuição da desigualdade nas outras áreas precisará de planejamento e da implementação de uma política de Estado, o que demora, mas tem de ser feito.