30 julho 2020

Marketing e política são atitude

Natura aposta em Thammy Miranda, homem transgênero e que foi pai no início deste ano, para ser
influenciador na campanha do Dia dos Pais: uma boa estratégia de marketing


A campanha para o Dia dos Pais, criada pela DPZ&T para a Natura, que inclui o uso do ator Thammy Miranda como influenciador, ele que é um homem transgênero e que foi pai no início deste ano, confirma na prática o que Júlio Ribeiro, sócio e presidente da Talent, disse em 2012 em seu livro*: marketing é atitude. E eu digo: a política também. 

Ao escolher para a função uma figura conhecida, mas controversa por sua opção sexual, a empresa sabia que chamaria para si todos os holofotes e que se colocaria em uma polêmica, mas sabia também que posicionaria a marca como a mais lembrada e comentada por sua atitude e isto ocorreu exatamente nestes dias que antecedem a data. 

A despeito de sofrer pressões transfóbicas intensas como tem sofrido, Thammy ganha duplamente ao aceitar o convite para atuar como influenciador na campanha, já que expõe a sua condição e provoca a discussão e também porque é pré-candidato a vereador em São Paulo e nessa pandemia a campanha será quase que só na internet. 

Os resultados já puderam ser vistos desde segunda-feira desta semana (27), quando a participação dele foi divulgada. A Natura e o nome do ator foram os mais comentados nas redes sociais. A polêmica não esfriou com o passar dos dias. Era isto com certeza que a Natura e Thammy gostariam que acontecesse nessa empreitada. 

O desafio era e é grande e o risco também. Este país ainda é extremamente machista e profundamente preconceituoso, mas a forma de mudar é provocando a discussão e colocando em pauta as polêmicas. Aceitar calado e continuar fazendo o que o machismo e o preconceito pregam só consolida ainda mais os dois. 

O questionamento principal, que atropelou os assuntos mais discutidos nas redes sociais nos últimos quatro dias, é se Thammy Miranda representa os pais de fato e o quanto essa dúvida pode impactar negativamente nos negócios da Natura, não só nas vendas para o Dia dos Pais, mas para o restante do ano, ainda mais nessa pandemia. 

A resposta é simples: em que pesem as críticas de bolsonaristas e a defesa de um pastor evangélico de que se boicote a marca, os resultados são positivos e certamente não vão prejudicar o desempenho de vendas, porque a Natura pega na veia uma questão que está em alta na sociedade e que mobiliza muito mais do que transgêneros. 

Não se trata apenas de atitude de marketing e atitude política. A Natura sempre teve uma linha de defesa da diversidade. A aposta em um homem transgênero não é surpresa por conta disso. Essa coerência é uma das argumentações da empresa. Thammy também. Por sua condição, trava uma luta antiga já contra o preconceito. 

Além disso, a campanha não é baseada em um pai transgênero. A proposta é trabalhar o conceito #MeuPaiPresente, sobretudo nessa época de pandemia, na qual pai e mãe devem dividir tarefas. A escolha de Thammy e dos demais influenciadores contratados, que são pais presentes, segue essa mesma premissa. 

Participam da campanha também os influenciadores: Babu Santana, Henrique Fogaça, Rafael Zulu, Família Quilombo, Rafael Cunha, Fernando Ferraz, Bruno Guedes, Dário Costa, Rodrigo Capita, Lucas Silveira, Receitas de Pai, Léo Feck e Leonardo Filomeno, que aparecerão em diferentes peças e momentos já programados. 

Os influenciadores vão usar em suas redes sociais a hashtag #MeuPaiPresente e deverão refletir sobre sua postura e o papel como pais na criação e educação dos filhos. Para a Natura, ser pai é estar presente. É amar, cuidar e estar aberto a se envolver e a se emocionar com os filhos e Thammy mostra isto todos os dias. 

Patricia Capuchinho, diretora de comunicação, engajamento e influência da DPZ&T, afirma que a agência buscou gerar uma reflexão sobre a importância de estar presente e de se conectar com seus filhos por meio da experiência real de pais influenciadores, que já vivem isso em seu dia a dia conforme mostram ao público. 

A Natura está correta em defender todas as maneiras de ser homem, livre de estereótipos e preconceitos. Também está quando diz que acredita que essa masculinidade, quando encontra a paternidade, transforma relações. Ser pai vai muito além de ser homem e gerar um filho como se concebeu e se aceitou pacificamente até hoje. 

Negar que um transgênero possa ser pai à sua maneira é negar que um pai adotivo possa ser pai. Em um país onde muitos pais ao modelo tradicional abandonam seus filhos quando trocam de mulher, ter pais que assumam filhos sem poder gerá-los é muito positivo. As novas famílias com toda a sua natureza de diversidade estão aí e são realidade. 

*Júlio Ribeiro, sócio e presidente da Talent, lançou em 2012 o livro “Marketing de Atitude – Como Fazer Suas Equipes e Seus Clientes Gostarem de Você”, no qual defende que atitude em conjunção com a paixão pelo que se faz constrói uma relação forte e consistente entre marcas, seus representantes e os consumidores.