20 julho 2020

Político não tem amigo

Políticos sempre se dão mal com amizades, porque elas não combinam com o poder devido
 aos interesses que geram, e elas sempre prejudicam a população 


Dizer que político não tem amigo soa como um comportamento hostil de alguém que não tem consideração com o outro. Não deixa de ser duro, é verdade, sobretudo em um dia como este 20 de julho, em que se comemora o Dia do Amigo no Brasil.

De qualquer modo, esta é uma realidade dos dois lados de observação: tanto nossa, os eleitores, no que se refere aos políticos, quanto dos políticos em relação aos demais. A razão é simples: para o eleitor, saber que o político tem amigos é perigoso e para o político também é.

Basta lembrar que todos os políticos flagrados com amigos nos últimos tempos ou até em tempos passados sempre estavam comprometidos. Ainda mais quando esses amigos eram empresários, empreiteiros e gente que ganhava alguma coisa a partir do Poder Público.

Não só: os amigos que ajudam a eleger também ajudam a governar e nem sempre têm as especificidades que cada função ou cargo público exige. Amigos que ajudam a eleger por trabalharem na campanha ou por financiarem-na também levam vantagens em favores de gabinete.

Enfim, amigos de políticos nunca se aproximam deles por nutrirem verdadeiramente uma amizade por eles. A aproximação visa sempre a conquista de vantagens. Não são só as financeiras que prejudicam o governo, as que permitem prioridades injustas ou inadequadas também.

Mas no Brasil é praticamente impossível afastar os amigos dos políticos, tanto porque as campanhas custam fortunas quanto porque a corrução segue impune. Mas esta é uma luta que vale a pena para que o Brasil deixe de ser esse país de fisiologismo e de populismo.

No caso dos políticos, o perigo também é grande. Quem não se lembra do famoso PC Farias, uma verdadeira bomba de informações ameaçando o governo Collor? Ou do agora ex-ministro Sérgio Moro, que saiu atirando em relação ao atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido)?



PC Farias nunca quis entregar o ex-presidente Fernando Collor de Mello, mas era uma bomba
sempre prestes a explodir que tinha de ser tratada com muito carinho

Isto para falar só de subalternos que colocaram os titulares em maus lençóis, mas há também as amizades que terminaram mal entre políticos do mesmo nível. O caso mais rumoroso em Brasília envolveu a ex-presidente Dilma Roussef (PT) e seu então vice Michel Temer (PMDB).

Como disse, em uma frase célebre sobre a amizade na política, o jornalista Victor Lasky, colunista conservador dos Estados Unidos, que escreveu vários livros entre os mais vendidos e que morreu no início de 1997, “na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem”.

Mas, independentemente dessas relações complicadas entre políticos, a amizade é um sentimento muito importante para o ser humano. Um estudo, realizado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, revelou que o fator que mais influi na saúde das pessoas é a amizade.

Para o psiquiatra George Valliant, coordenador do estudo, a única coisa que realmente importa para as pessoas ouvidas na pesquisa são as suas relações com outras pessoas, o que lhes dá bem-estar. “Laços fortes de amizade aumentam a vida em até 10 anos”.

Pesquisadores da Universidade Duke, também nos Estados Unidos, descobriram que gente com menos de 4 amigos tem risco dobrado de doenças cardíacas. Tudo porque a ocitocina, hormônio que estimula as interações entre as pessoas, age como um oposto da adrenalina.

Se esta aumenta o nível de estresse, a outra reduz os batimentos cardíacos e a pressão arterial. Dessa forma, a ocitocina diminui a probabilidade de ataques cardíacos e a pressão. Por conta dessa redução, caem também ataques cardíacos e derrames. Ou seja, é melhor ter amigos.