12 julho 2020

A culpa é da Madalena

Uma história incrível, na qual um crime que pode parecer bárbaro pelas circunstâncias,
 mas que guarda todo um rosário de razões nunca reveladas antes


- A culpa foi da Madalena, foi da Madalena, Dalva repetia nervosa a mesma frase sem parar. 

Os olhos arregalados, o coração disparado, as mãos inquietas, estava a ponto de ter um infarto. 

Os policiais se entreolharam desconfiados ao ouvi-la. 

A adolescente estava no meio de um matagal. 

Corria olhando para trás com medo dos policiais e acabou topando com uma cerca de arame farpado. 

Ao ver sua pele rasgada e o sangue escorrendo sem parar, começou a gritar desesperada por socorro. 

Os policiais estavam por toda a parte no pequeno sítio, onde Dalva e Madalena moravam com avó Jandira no sertão da Paraíba e vieram rapidamente até ela. 

Eles procuravam pistas que esclarecessem a morte de seu Pedro, de 82 anos, marido de dona Jandira. 

O corpo fora encontrado dentro do poço da propriedade em adiantado estado de putrefação. 

Ele estava desaparecido havia mais de uma semana. 

Dona Jandira demorou a registrar o sumiço na delegacia devido aos pedidos que Dalva lhe fez várias vezes. 

Ela dizia que o avô apareceria. 

- Vô gosta de tomar umas cachaças. Ele pode ter se perdido nesses matos. É só esperar que ele aparece. 

Como não aparecia, dona Jandira foi à delegacia. 

Feita a queixa, a polícia veio com dois investigadores apenas. Eles vasculharam a propriedade e encontraram o corpo no poço. A partir disso, pediram reforços. 

Não fazia nem uma hora que o batalhão de homens da polícia estava vasculhando pistas no sítio. 

Ao vê-los chegar, Dalva tentou se esconder. Ela já fora interrogada pelos investigadores junto com Madalena e a avó e eles pareceram desconfiar dela. Não disseram nada nesse sentido, mas ela teve a impressão porque fizeram mais perguntas a ela que a Madalena ou a avó. 

Se se escondesse, iriam embora e não a importunariam. Era o que pensava quando correu para o matagal. 



Os policiais fizeram o primeiro atendimento após levarem Dalva para a casa do sítio. Rapidamente conseguiram conter o sangue e acalmaram a adolescente. 

Com pequenos curativos e de roupa trocada, alguns minutos depois, Dalva foi para o quarto que dividia com Madalena, mas o comandante dos policiais pediu que ela voltasse para a sala a fim de ser ouvida. 

- O que eu fiz?, chegou perguntando. 

- É o que queremos saber, disse o comandante. 

- Mas eu não fiz nada. Não fiz. Eu amava o meu avô. 

- Meus homens disseram que você acusou sua irmã ao ser encontrada no matagal. Isto é verdade? 

- Eu?, se surpreendeu Madalena. 

Dalva ficou insegura de repetir a frase que dissera tantas vezes aos policiais alguns momentos antes. 

Temia pela reação da irmã. 

- Como assim Dalva?, perguntou dona Jandira. 

Todos a olhavam atentos para ouvir uma resposta. 

A adolescente titubeou alguns instantes e depois gritou a mesma frase de antes fechando os olhos. 

- Foi a Madalena, a culpa foi da Madalena. 

Madalena e a avó arregalaram os olhos. 

O comandante quis saber mais: 

- O que aconteceu? Conte o que você sabe. Por favor. 

A adolescente olhou para a irmã e a avó com cara de quem havia feito uma grande besteira. 

- Eu não sei o que aconteceu. Só sei que a Madalena discutiu com nosso avô e ele foi para cima dela para dar uma surra. Ela saiu da frente e ele caiu no poço. Ela ficou assustada e correu sem dizer nada a ninguém. 

- E como você soube disso?, perguntou o comandante. 

- Ela me contou. Estava com medo de que descobrissem. Achava que ele tivesse saído de lá e tivesse ido ao hospital. 

- Por que você não contou para sua avó? 

- Eu não sei. Tive medo. Não queria deixá-la triste. No fundo, eu também achava que nosso avô tinha saído de lá e ido ao hospital. Ele sumia às vezes por causa da bebida. 

O comandante virou-se para Madalena: 

- O que você tem a dizer sobre isso Madalena? 

Dois anos mais nova que Dalva, Madalena não aparentava os 15 anos que tinha. Era muito miúda. Ao contrário da irmã, era tímida e parecia se encolher. 

Com os olhos miúdos cheios de lágrimas, ela gaguejou: 

- Não fiz nada disso não senhor, não fiz. 

- Você está inventando isso, não é Dalva?, perguntou a avó. Ela não acreditava que a neta Madalena pudesse ter feito algo tão terrível daquele jeito com o avô. 

Mas não havia como provar nem que a culpa era dela nem que não era pelo tempo decorrido do crime. 

O testemunho da irmã era forte para a condenação. 

Os policiais levaram Madalena. 

A avó ficou aos prantos. As lágrimas eram pelo marido e pela neta. Para ela, uma injustiçada. 

Dalva se manteve firme sobre a acusação o tempo todo. 

Ela contava detalhes de tudo e, quando havia dúvidas, dizia que fora o que ouvira da irmã. Não sabia ao certo, pois não estava no local do crime quando aconteceu. 

Madalena foi levada a um centro socioeducativo de menores na Paraíba, onde ficou até atingir a maioridade. 

Depois que saiu, a avó já havia falecido. 



Madalena nunca fora visitada pela irmã enquanto esteve no centro socioeducativo e não sabia de Dalva quando saiu ao fazer 18 anos, mas já a havia perdoado. 

Ela sabia que não cometera o crime de que fora acusada. 

Só que a atitude de Dalva marcara a sua vida para sempre. Tudo que ela queria, ao sair, era deixar para traz o tormento da reclusão e refazer a sua vida. 

Sua avó havia guardado dinheiro para quando ela saísse. 

Madalena mudou-se da Paraíba para Piracicaba, no interior de São Paulo, atraída por um anúncio de emprego. 

Uma agência trazia pessoas de lá para São Paulo com a promessa de vagas de trabalho e moradia. 

Ao chegar em Piracicaba, ela descobriu que fora enganada. Em vez do emprego como esperava, a agência transformava as mulheres trazidas em escravas sexuais. Todas eram obrigadas a trabalhar em boates da região. 

Como não tinham parentes nem conhecidos próximos e não tinham dinheiro ou documentos, já que tudo o que tinham era apreendido, as mulheres tinham de viver em um abrigo no porão de uma das boates na entrada da cidade. 

Madalena apanhou várias vezes, pois não sabia fazer nada do que os responsáveis pelo agenciamento queriam. Tímida e oriunda do interior da Paraíba, ela não sabia nem dançar, o que exigiu que fosse treinada para tudo. 

Eles eram violentos e impiedosos. 

O que a salvou de um desaparecimento misterioso como do avô é que era bonita, apesar de ser miúda. 

Poderia servir pelo lado sexual, segundo lhe disseram. 

Depois de algum tempo nas mãos de Matilde, uma cafetina que servia à agência, ela conseguiu se articular para começar a trabalhar, apesar de desengonçada. 

Os homens que frequentavam as boates não eram menos agressivos que os donos da agência ou a cafetina. 

As torturas pelas quais passava e a alimentação deficiente, aliada à falta de tempo para dormir, fizeram com que, rapidamente, a adolescente bonita desse lugar a uma mulher envergada pelos seus dramas. 

Aos 22 anos, após quatro anos presa àquela vida, ela já aparentava ter 30 e desenvolveu um câncer de colo de útero, o que a impediu de trabalhar sexualmente. 

Os donos da agência resolveram matá-la. 

Após vê-la no porão, um deles conversou com a cafetina: 

- Vamos ter de nos livrar dela. 

- Será? Não é melhor soltá-la em algum mato? Esquecer e deixar que alguém faça esse serviço por nós?, disse ela. 

- Está louca. Não podemos correr esse risco. Temos de resolver aqui mesmo. Depois desovamos em algum mato. 

- Converse com o Fred. Talvez não seja uma boa matá-la. Um crime sempre traz polícia. Não é o que queremos. 

- Vou falar com ele, mas não creio que ele pense diferente e vamos ter de resolver isso rapidamente. 

Madalena ficou com mais medo depois de ouvir. 

Mas a cafetina estava disposta a insistir na sua tese. 

Como a doença progredia, ela conseguiu autorização para levá-la a um hospital em busca de atendimento. 

Levada pela cafetina, Madalena conseguiu fugir. 

Ela deixou Piracicaba de carona em um caminhão bitrem carregado de açúcar, o primeiro que apareceu. 

O motorista a levou para um matagal próximo a Charqueada, cidade distante 32 quilômetros de Piracicaba, e lá a estuprou com violência, deixando-a desmaiada. 

Quando acordou, Madalena estava toda molhada de sangue e se sentia fraca para caminhar. 

Com muita dificuldade, conseguiu chegar à margem da rodovia novamente e foi socorrida por outro caminhoneiro. 

- De onde você é? É de Charqueada?, ele perguntou. 

- Sim, ela disse. 

O motorista a deixou na praça central. 

Madalena conseguiu ser levada ao hospital depois de pedir socorro em um bar nas imediações. 

O dono do bar, Arlindo Coelho, a acompanhou até ela sair medicada e a levou para casa, onde morava sozinho. 

Deu-lhe comida e roupas novas. 

- Obrigada pela ajuda, mas eu não posso ficar, disse ela. 

- E você vai para onde? 

- Não sei. Só não quero passar por tudo que passei novamente. Estou muito doente. 

- Eu não vou estuprar você, disse o dono do bar, fazendo-lhe carinho no rosto como quem estava realmente oferecendo ajuda desinteressada. 

Madalena não confiava nele, mas não tinha muita alternativa e, para quem já tinha passado por tudo que já passara desde a chegada a Piracicaba, nada poderia ser pior. Ela resolveu ficar e arriscar a sorte. 

De fato, Arlindo Coelho não fez nada contra ela. 



Além de abrigá-la, Arlindo Coelho deu emprego a ela no bar, onde servia refeições. Ela passou a fazer a comida e a servir as mesas. Também ajudava a limpar tudo. 

Madalena era aplicada e isto deixava Arlindo feliz. 

Passaram-se quase três anos e os dois se casaram. 

O bar ia de vento em popa. 

Depois da chegada de Madalena e de ela começar a fazer comida, a fama de boa cozinheira se espalhou. 

Em pouco mais de um ano, o bar se transformou em um restaurante e o negócio crescia a olhos vistos. 

Um dia, Madalena saiu da cozinha para pedir a Arlindo que comprasse mais arroz, pois a reserva estava acabando, e deu de cara com ele todo cordial debruçado sobre a mesa, onde uma moça estava sentada de costas para ela. 

Madalena não era ciumenta, mas a cena a deixou desconcertada e sem saber o que fazer. 

- Arlindo, ela chamou. 

Rapidamente, o marido e a moça olharam para ela. 

Para surpresa de Madalena, a moça era Dalva. 

- Você? 

- Vocês se conhecem?, perguntou Arlindo. 

- Não, não nos conhecemos não, disse Dalva. 

- É claro que nos conhecemos: ela é Dalva, uma pessoa que eu pensei que fosse minha irmã, mas que ficou no passado, no meu passado na Paraíba. 

- Eu não sou passado: estou bem viva hoje. 

- O que quer aqui?, perguntou Madalena. 

- Vim atrás de você porque fugiu com o dinheiro da nossa avó, que é meu também e que eu quero de volta, e porque precisamos resolver a venda do sítio. 

- O quê? Que dinheiro é esse? 

- O dinheiro que você pegou para vir para Piracicaba e depois para cá. Você me roubou, disse Dalva gritando. 

- Como é essa história?, Arlindo quis saber. 

- Você é louca. Eu não roubei nada. O dinheiro que usei para vir para cá foi dado a mim pela nossa avó. 

- Como prova isso? Por que ela faria isso se você matou o nosso avô? O dinheiro estava no banco e você roubou a senha dela e tirou tudo quando saiu da reclusão. 

- Como assim matou o avô?, Arlindo fica mais sem entender, mas a conversa das duas o preocupa. 

- É mentira dela Arlindo. Minha irmã disse à polícia que eu fiz meu avô cair em um poço, onde morreu. Mas não fiz isso. Eu fiquei três anos em um centro socioeducativo por causa da acusação. Minha avó foi a única a me visitar todos esses anos. Ela acreditava em minha inocência. Em uma dessas visitas, me disse que tinha guardado dinheiro para que eu pudesse refazer a minha vida e me deu a senha. 

- Mentira dela, grita Dalva. - Ela deu um jeito de roubar a senha. Quando saiu, nossa avó tinha morrido e ela pegou o dinheiro e fugiu para cá. Esse dinheiro é meu. 

Apesar de tímida e bastante miúda perto da irmã, Madalena não suportou as agressões e partiu para cima dela. As duas começaram a se atacar puxando os cabelos e rolando pelo restaurante. Arlindo só conseguiu separá-las depois de muito esforço e uso da força. 

Dalva foi embora descabelada e revoltada. 

Mas Arlindo não ficou do lado da mulher como ela esperava. Ele ficou sem conversar com ela o resto do dia. 

À noite, disse que iria dar uma volta para pensar. 

Em vez disso, foi atrás de Dalva. 



A visita de Dalva transformou a vida de Madalena novamente. Após tanto sofrimento, ela estava feliz com a convivência com Arlindo e não esperava rever a irmã. 

Dalva fixou residência em Charqueada também. 

Ela acabou seduzindo o marido de Madalena. 

Todas as noites Arlindo saía para pensar como dizia e ia atrás dela. Ficava até tarde da noite. Quando voltava, estava agressivo e maltratava Madalena. 

Frequentemente, Dalva aparecia no restaurante para cobrar Madalena e a ameaçava invariavelmente. 

Apesar disso, Madalena a enfrentava e não cedia. 

Até porque não tinha mais o dinheiro que a avó lhe deixara e nem tinha como obtê-lo novamente. 

Sempre Arlindo se mostrava cortês demais com Dalva e tratava Madalena muito mal na frente de todos. 

Após alguns meses, começaram as agressões. 

Eles discutiam em casa quando o restaurante fechava e um dia Arlindo a empurrou fazendo com que ela caísse e batesse a cabeça em um móvel, ferindo-se com gravidade. 

Levada ao hospital, Madalena pensou em denunciar, mas achava que isso tudo ia passar, pois Arlindo não era violento. O que virara a sua cabeça era a sua irmã. Ela tinha de achar um jeito de se livrar de Dalva definitivamente. 

Mas as agressões foram se repetindo e cada vez com mais gravidade. Ela não tinha mais prazer em viver ali. Apesar disso, não tinha como deixar a casa e ir embora. 

Não acumulara dinheiro algum desde que se casara com ele. Tudo sempre esteve no nome de Arlindo. Ela não tinha sequer uma conta no banco ou algum bem. 

Como já vivia com ele há mais de cinco anos, Madalena apanhou os documentos da casa e do bar e do carro que Arlindo tinha e os levou a um advogado para saber se tinha direito de parte, já que vivia com ele há tanto tempo. 

O advogado lhe deu uma boa notícia: ela tinha direito. 

Na tentativa de verificar a situação dos bens, ele levantou os registros e acabou descobrindo que nada estava no nome de Arlindo mais. Todos os bens haviam sido transferidos para o nome de Dalva, a irmã dela. 

Madalena conversou com Arlindo quando chegou em casa e ele confessou que fora enganado por Dalva. 

Assinara os documentos enquanto estava bêbado. 

- Não tem problema. Vamos retomar tudo. Amanhã vou falar com ela. Dalva vai ter de devolver, disse Madalena. 



Antes que fosse procurar a irmã, Dalva surpreendeu Madalena e Arlindo com a sua visita logo pela manhã. 

- Estou aqui para tomar posse do que é meu. 

- Como é?, irritou-se Arlindo. 

Mas ele não pode agredi-la como esperava. 

Dalva trouxera com ela dois seguranças. 

- Vocês podem trabalhar para mim. Eu pago um bom salário, já descontado o aluguel da casa e o carro eu vou levar comigo agora, anunciou Dalva. 

O carro era o xodó de Arlindo. Era um Corolla do ano, que ele comprara à vista nos bons tempos do bar ainda. A perda do veículo foi como se um filho fosse embora. 

Se Arlindo havia ficado violento e agressivo com Madalena após o relacionamento com Dalva, agora a vida de empregado do negócio que ele montara o deixava depressivo e não menos agressivo e violento. 

As brigas se sucediam praticamente todos os dias. 

Para tentar ter um pouco mais de dinheiro, Arlindo resolveu mudar-se com Madalena para uma casinha pequena feita de madeira bem distante do centro. 

Ela deixou o trabalho no restaurante e passou a trabalhar em casa com costuras sob encomenda. 

Mas nada melhorava a vida que levavam. 

Arlindo passou a beber em demasia e a chegar em casa quase todos os dias bêbado e sempre agressivo. 

Um dia, Dalva o demitiu. 

Agora não tinham mais contato com a irmã de Madalena. 

Arlindo passou a trabalhar como boia-fria. 



Em 1990 ou 1991, não me lembro a data exata, tive contato com o casal Arlindo e Madalena por conta do meu trabalho como jornalista da Folha de São Paulo. 

Em uma ligação para a polícia para fazer uma ronda sobre ocorrências da região, fui informado de um caso que me chamou muito a atenção: uma mulher havia matado o marido e depois dormira com ele e só descobrira que ele morrera no dia seguinte, quando tentou acordá-lo. 

Essa mulher era Madalena. 

Descobri com ela que o marido chegara em casa mais uma vez bêbado, como vinha fazendo nos últimos tempos. 

No dia da ocorrência chovia muito. 

Ainda na porta da casa de madeira, Arlindo, descontrolado e confuso, tentou fazer sexo com a mulher. Ele a puxou para perto de si e tentava tirar-lhe a roupa. 

Madalena estava com um rolo de macarrão nas mãos, pois estava cozinhando antes de ele chegar. 

Para se livrar da investida, ela desferiu um golpe com o rolo de macarrão com muita força na cabeça dele. 

Arlindo desfaleceu na hora e caiu na poça d’água que se formara na entrada da casa. Sua cabeça sangrava. Madalena não sabia o que fazer. Ele era um homem grande. 

Com muito esforço, ela arrastou o marido para dentro de casa, tirou-lhe as roupas, limpou a sujeira da chuva, fez curativo no ferimento e colocou roupas limpas nele. 

Depois o arrastou até a cama. Colocou o marido para dormir do seu lado. Deitou-se e dormiu. 

Ela imaginava que ele estava desmaiado pelo golpe e pela bebida. No outro dia estaria bom outra vez. 

A chuva persistiu a noite toda. 

No outro dia, por volta das 5h, Madalena tentou acordar o marido e ele estava totalmente duro. 

A informação era tão curiosa que me rendeu uma manchete* do extinto Notícias Populares, que era o jornal popular do grupo Folha na época: 

“Matou o marido e dormiu com o morto”. 

Quando conversei com Madalena descobri toda a história acima, mas ela perdeu a importância diante do crime que ela havia cometido sem nem saber que havia cometido. 

Ela mesma havia chamado a polícia e esperara no local até tudo ser esclarecido e ela ser presa. 

Antes de a polícia levá-la, sua irmã Dalva apareceu no local e dizia para todos calma e decidida: 

- A culpa foi da Madalena, foi da Madalena. 


No jargão jornalístico, manchete é o título principal, de maior destaque, no alto da primeira página de jornal.



O que é o projeto?

Este texto faz parte do projeto de elaboração de um livro contando os bastidores de reportagens ao longo de quase 40 anos de profissão, que se chamará "Coração Jornalista".