03 julho 2020

A importância de se cultivar lideranças


Precisamos de lideranças nascidas do interesse público. Do contrário, vamos ser um país cada
vez mais pobre de líderes e cada vez mais afundado em corrupção, desgoverno e atraso


O Brasil vive atualmente uma crise brutal de liderança na área política, que é a área que comanda bem ou mal os destinos da nação. A ação do presidente, confrontando possíveis rivais na disputada pela reeleição em detrimento da saúde da população, é triste, para dizer o mínimo. 

Não se concebe que um presidente de um país com tantas desigualdades como é o Brasil se permita vetar o uso de máscaras em estabelecimentos comerciais, industriais e de ensino, templos religiosos e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas, ignorando a prevenção. 

O uso de máscaras é uma das medidas mais importantes para evitar o contágio do novo coronavírus, de acordo com todos os protocolos científicos e da OMS (Organização Mundial de Saúde), e o veto ao seu uso obrigatório incentiva aqueles que são irresponsáveis a não usar. 

Diante de lideranças divergentes e enfraquecidas por essa divergência em um assunto tão importante, o cidadão acaba não atendendo bem nem a um nem a outro. Quem perde com isto é o país, que ainda não conseguiu retomar a sua economia e perde milhares de vidas todo dia. 

É por essa razão que é fundamental cultivar a criação de líderes e valorizar quem tem essa qualidade natural. Viver nessa confusão que se instala todo dia é dar margem para que o país venha a patinar ainda mais na sua recuperação. Hoje ninguém sabe a quem seguir, a quem atender. 

Não é à toa que não temos líderes políticos genuínos atualmente. A maioria das lideranças que comandam todas as instâncias de poder, com raras exceções, é proveniente de oportunidades de momento. São líderes forjados no vácuo da decepção com outra ala que a antecedeu. 

Precisamos de lideranças nascidas do interesse público, com todo o rigor das leis que regulam a coisa pública, mas com liberdade para trabalhar. Do contrário, vamos ser um país cada vez mais pobre de líderes e cada vez mais afundado em corrupção, desgoverno e atraso. 

Há que se valorizar nessa busca homens de vida pregressa de respeito, porque estes podem conduzir o povo para o melhor caminho. É claro que estes podem também enveredar para o erro e decepcionar quem confiou a eles o seu destino, mas isto é mais raro. 

Aproveitando a data e o tema liderança, trago aqui um personagem bíblico importante que encarna o clima atual pela forma como ficou conhecido e que a igreja comemora o dia neste 3 de julho: São Tomé, o símbolo da dúvida, já que ousou duvidar dos apóstolos sobre o retorno de Jesus. 

No Evangelho de São João, há um relato sobre essa passagem. Jesus apareceu aos apóstolos depois da ressurreição, mas Tomé não estava entre eles. Quando lhe contaram, ele disse que só acreditaria se tocasse as chagas do Cristo e o ferimento que tinha na lateral do corpo. 

Passaram-se oito dias e então Jesus reapareceu, mas desta vez Tomé estava com eles. Então Jesus disse a ele: venha tocar as chagas e o ferimento. Ele tocou e disse: “Meu Senhor e meu Deus”. E Jesus disse: “Agora acredita, mas bem-aventurados os que não veem, mas acreditam”. 

Por que Jesus deu essa colher de chá para Tomé? Qualquer um podia duvidar de qualquer coisa. Só que Tomé tinha uma vida pregressa importante para os objetivos de Jesus. Ele era um líder que conseguia arrastar pessoas atrás de si e que era confiável a todos os que o cercavam. 

Tomé era judeu da Galileia e como outros discípulos era um pescador. No primeiro encontro dele com Jesus, às margens do mar de Tiberíades, os pescadores tinham saído para pescar e não pegaram nada. No retorno, Jesus disse: “Joguem a rede do lado direito” e os peixes apareceram. 

Quando Jesus disse que iria ver Lázaro, irmão de Maria, que estava doente. Os apóstolos não queriam. Disseram que ele corria risco de ser apedrejado lá. Isto porque pouco antes já houvera uma ameaça do tipo. Mas Jesus disse que iria, porque Lázaro havia morrido e ele iria acordá-lo. 

Ao ver a decisão tomada, Tomé disse aos demais apóstolos: “Se Jesus vai enfrentar quem pode apedrejá-lo, então vamos nós também para morrermos com ele”. Todos os apóstolos seguiram Tomé e deram o suporte que Jesus precisava para aquele momento importante. 

A segunda vez em que Tomé demonstrou como o seu apoio era importante para o mestre foi na Santa Ceia. Após Jesus saber que fora traído por Judas e se retirar do meio dos apóstolos, Tomé disse: “Senhor, nós não sabemos para onde vais, como podemos conhecer o caminho?” 

A resposta de Jesus constituiu uma máxima da igreja até hoje repetida: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim.” Tomé deu a Jesus a oportunidade de mostrar o caminho e de conduzir aqueles líderes para que eles conduzissem o povo. 

Ou seja, por que Jesus deu a Tomé a oportunidade de comprovar que ele estava ali depois da ressurreição? Porque Tomé poderia fazer muito em seu favor com isto. E fez: depois da morte de Jesus, Tomé estendeu seu apostolado até a Índia e conquistou muitos seguidores. 

Em Malabar, surgiu uma fervorosa comunidade cristã em torno dele, que fundou a Igreja de São Tomé. O apóstolo foi martirizado e morto pelo rei de Milapura, na cidade indiana de Madras, onde fica o "Monte São Tomé" e a "Catedral de São Tomé", supostamente o local de seu sepultamento.