01 junho 2020

Atrás de uma crise vêm várias outras


É quando surgem crises que aprendemos a descobrir em nós mesmos habilidades
 e capacidades que nunca havíamos antes pensado ter e nem que pudéssemos usar

Em uma conversa informal entre dois amigos, nestes tempos de pandemia, um dizia ao outro que estava muito preocupado com o avanço do número de casos e de mortes no Brasil. O outro dizia para não se preocupar, pois 90% do que se vê na televisão e nos jornais não passa de resultado de uma briga política, porque este ano tem eleição. Nem um nem outro têm razão completamente, mas também nem um nem outro deixa de ter razão no que diz: é preciso cautela nessa análise.

Primeiro e mais importante do que tudo é fundamental que não se queira absorver os problemas do mundo na vã filosofia de que devemos nos preocupar com os outros. O mundo está em desordem por conta dessa pandemia e o número e a gravidade de problemas decorrentes é tão grande que enlouqueceria qualquer bom samaritano. É claro que devemos nos preocupar com o outro e prestar auxílio naquilo que está ao nosso alcance, só que sem abraçar o que não cabe nos nossos braços.

Segundo e não menos importante, é necessário que não se coloque tudo na mesma vala comum de que se trata de uma briga política e por conta disso não nos preocuparmos com mais nada. Se a doença provocada pelo coronavírus não é exatamente como cada governante vê – e não é mesmo -, ela também não é exatamente como cada um vê. O que é comum é que se trata de uma doença altamente contagiosa e que mata, sobretudo pela dificuldade de tratar a todos ao mesmo tempo.

Talvez o grande segredo para se enfrentar esse momento de pandemia seja olhar para tudo o que está acontecendo com menos amplitude e mais amiúde. Se olharmos com o primeiro amigo, que vê o mundo em desastre e sem alternativas, estaremos gerando em nós mesmos crises de ansiedade, depressão e até mesmo o agravamento de outras doenças. O mundo sofre e nós sofremos junto com ele, mas o mundo só acaba para quem desiste da luta e se entrega ao desconhecido da morte.

É saudável que vejamos o problema amiúde para termos domínio. Tudo aquilo que não controlamos gera estresse. O que está na área do nosso abraço? Os cuidados pessoais, os cuidados em casa e os cuidados nos contatos que temos. Se temos de trabalhar, isto é mais forte ainda. Se estamos em casa, também é necessário. Outra coisa fundamental: minimizar o que nos irrita. Não dá para ser rigoroso com tudo agora. Não queira mudar o outro. Nem se mudar. Adie e viva melhor.

Conviver é viver duas vezes.