21 agosto 2020

Pandemia pode exigir reinvenção de negócios

 

O momento é de repensar operações de negócios porque vem uma eleição aí e a crise
 da pandemia aumentou as dificuldades para todos



Cada empresa absorve de forma diferente os impactos da pandemia do novo coronavírus. Em algumas ela é devastadora, como em setores que dependem fundamentalmente das aglomerações. Em outras, é um motivador de crescimento, como nas que fazem delivery. Mas o momento é de repensar todos os negócios.

Sobretudo porque o Brasil vive um ano eleitoral para a troca de prefeitos e vereadores e ainda experimenta a expectativa e o trabalho de bastidores para a outra eleição daqui a dois anos, que vai mudar o presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais e essas mudanças afetam os negócios de alguma maneira. 

Um exemplo é a reforma tributária com parte já em análise no Congresso e essa parte é bastante ruim, porque prevê aumento de impostos na fusão dos que já existem e até a criação de novos, um deles muito perverso, que terá outro nome, mas traz os efeitos danosos da CPMF, invenção medonha do passado que, felizmente, acabou. 

O repensar é necessário para se verificar alternativas para se manter no mercado, como no caso das empresas que dependem das aglomerações, e para criar um plano de investimento e desenvolvimento no curto, médio e longo prazos para aquelas que estão lucrando com a pandemia, pois tudo ainda é muito novo para ter definições fixas. 

Há empresas que estavam de um lado e descobriram um filão do outro lado e agora terão de reavaliar a estratégia para que uma área não sufoque a outra e ao mesmo tempo que aquela que está dando lucro possa dar mais ainda, como ocorreu com a Uber, gigante americana, que enfrenta sérias dificuldades de um lado e lucro do outro. 

A Uber é um bom exemplo de como o repensar o negócio pode trazer bons frutos. Na quinta-feira (6), a empresa divulgou os resultados da sua operação no segundo trimestre de 2020, com dados que vão de 30 de março a 30 de junho, e eles não são nada bons, afinal os aplicativos de transporte foram alguns dos mais afetados. 

A empresa registrou queda no número de usuários ativos, queda no número de viagens e queda no faturamento, tudo fruto do isolamento social em diversas partes do mundo, em que pese que a empresa continuou prestando serviços como alternativa à aglomeração do transporte coletivo, mas nem todo mundo suporta o custo dos seus serviços. 

As quedas foram significativas: 44% no número de usuários ativos mensais tanto do aplicativo Uber quanto do aplicativo Uber Eats, que é a operação delivery da empresa, ou seja, 44 milhões de usuários ao redor do mundo, o que impactou 29% de perda no faturamento total da empresa, um prejuízo que equivale a US$ 1,8 bilhão. 

A perda referente ao faturamento total do aplicativo de transporte de passageiros foi maior ainda: 67%, o equivalente a um prejuízo de US$ 1,5 bilhão. Esse número é resultado de uma queda de 56% no número de viagens realizadas globalmente, de 1,6 bilhão para 737 milhões, isto comparando-se o executado em 2020 contra 2019. 

Em contrapartida, o aplicativo Uber Eats cresceu em uma proporção inversa. O aumento no número de faturamento da plataforma foi de 103%, o que quer dizer US$ 616 milhões. Também aumentou em 50% o número de parcerias com restaurantes. Globalmente, existem mais de 500 mil estabelecimentos cadastrados na plataforma já. 

Além disso, a Uber consolidou em julho a aquisição de uma startup chilena especializada em delivery de compras de supermercado, a Cornershop, um novo modelo de negócios, que vai estar disponível em breve também para o Brasil, onde os usuários poderão fazer encomendas de suas compras tanto pela Uber quanto pelo Uber Eats. 

A empresa se mostra confiante para conseguir tornar sua operação lucrativa antes do fim de 2021. No relatório do trimestre, ela já anunciou que arrecadou US$ 1 bilhão por meio de empréstimos para expandir sua operação efetivamente, o que significa implementar novas estratégias e possivelmente adquirir outras startups. 

Outra estratégia da Uber, anunciada aos usuários na terça-feira (11), foi a colocação no mercado brasileiro do Uber Pass, uma assinatura que oferece descontos e outros benefícios por uma mensalidade de R$ 24,99. O objetivo é fidelizar clientes nesse momento de crise. Nos Estados Unidos, a modalidade foi lançada com êxito em 2019. 

É bom lembrar que a Uber vive se reinventando. Em maio de 2019, por exemplo, ela passou a negociar ações na bolsa de valores de Nova York e logo em seguida levou um susto. No dia da abertura, o valor de mercado da empresa era de US$ 82,4 bilhões e em apenas dois dias o valor caiu para US$ 62,2 bilhões. É ou não é de dar frio na barriga?