30 maio 2020

O novo momento da crise


O governador João Dória resolveu ceder às pressões para flexibilizar a abertura
 do comércio e a decisão vai exigir liderança dos prefeitos


O registro da primeira morte por conta do coronavírus em Salto e a pressão mais forte da Associação Comercial e Industrial para a reabertura do comércio, ambas nesta semana, associadas à gestão para a retomada de várias outras atividades, colocam em xeque o comando da cidade, ainda que opiniões sigam divididas. 

A razão principal para esse imbróglio é a decisão do governo do Estado, que anunciou a flexibilização das atividades na quarta-feira (27) e a oficializou nesta sexta-feira (29), surpreendendo quem acompanha o combate ao vírus em São Paulo, já que o governador João Dória (PSDB) sempre defendeu o isolamento. 

Se de um lado existe a preocupação com a falência de empresas pelo tempo parado, de outro há o temor de que a reabertura do comércio faça com que o vírus se espalhe com mais facilidade e o susto da primeira morte na cidade, uma senhora de 63 anos que estava internada desde 22 de abril, reforça esse medo. 

A imagem que fica é que as mesmas pressões que estão em cima do chefe do Executivo de Salto estão também sobre o comandante do governo do Estado e elas são econômicas essencialmente, o que as torna muito maiores e mais poderosas, mas ainda assim é preciso que os líderes não se deixem comandar por essas ações. 

A melhor saída nessa questão é não pender nem tanto ao mar nem tanto à terra, como diriam os navegadores, ou seja: não se pode flexibilizar ao extremo, como deseja boa parte dos empresários e comerciantes, nem manter o rigor do isolamento total, já que existem possibilidades de retomada em alguns setores. 

Além da dificuldade de tomada de decisão, há um detalhe importante que deve ser levado em conta pelas autoridades: a possibilidade de desobediência. As pessoas físicas já não estão obedecendo o isolamento social e as dificuldades econômicas agora podem levar as pessoas jurídicas a não atender as regras. 

A decisão do governo é difícil, mas precisa ser tomada com os olhos atentos para os cuidados com a saúde e com a cautela necessária para não falir empresas importantes para a geração de empregos, sobretudo as micro e pequenas empresas, que são as maiores geradoras de postos de trabalho e as mais prejudicadas. 

Liderar é agir. 


Artigo publicado na seção de opinião do Jornal Taperá de 30-05-2020