10 agosto 2020

As ameaças que rondam a eleição

 

Mesários estão com medo de contaminação e ameaçam prejudicar a eleição 
deste ano, que foi adiada de outubro para novembro

Quem achava que a única ameaça à eleição deste ano era realizar o pleito em outubro, engana-se completamente. O adiamento para novembro dos dois turnos não eliminou nem a metade dos problemas. O mais recente agora são os mesários, que se recusam a trabalhar por medo.

Não é à toa: o risco de contágio aumenta em todo o país, sobretudo porque não se faz um isolamento social sério. Em outros países a curva de contaminação já estava muito menor no mesmo período. Aqui, principalmente pela negação do presidente, ela empacou com altos índices.

Afora o risco de não se ter o número de mesários necessários, existem outros problemas. A biometria, por exemplo, garante a identidade do eleitor, mas exige a conferência da digital, o que requer mais tempo. De outro lado, se ela for usada não se permitirá álcool gel nas digitais.

Sem orçamento para as eleições, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, depende de doações para a proteção. Ele vai recorrer a empresários ligados à Fiesp para bancar o fornecimento de máscaras, álcool em gel e luvas. E prevê ainda demarcação no chão e extensão de horário.

Definido por enquanto existe apenas a nova data do pleito. No último dia 2 de agosto, foi promulgada a emenda constitucional que estabelece que o primeiro turno da eleição será em 15 de novembro, enquanto a segunda fase ocorrerá no dia 29 do mesmo mês. O resto são estudos.

A possibilidade de levar a eleição para até as 20h não é tão simples assim. É preciso definir, por exemplo, como viabilizar o comparecimento de comunidades ribeirinhas da Amazônia. Essas pessoas vão para os locais de votação de barco ou helicóptero, transportes que não operam à noite.

A preocupação e as dificuldades estão levando a busca por soluções mais absurdas ainda. O TSE estuda, por exemplo, isentar de multas quem não comparecer às eleições, desde que alegue comprovadamente o risco de contaminação. Isto vai fazer a abstenção explodir.

Outra hipótese sem nexo, aventada pelo TSE, é a de dividir os horários de votação por faixa etária para evitar a aglomeração. A proposta não leva em conta que famílias comparecem juntas para as votações. Se parte delas for impedida de ir em determinado horário, não irá mais.

O risco de muita gente deixar de votar é realmente grande. Primeiro pelo desinteresse pela eleição que aumenta todo dia. Segundo, porque o risco de contaminação é enorme. Terceiro, devido ao fato de não existirem recursos para dar segurança a ninguém.

No Rio a insegurança é ainda pior. As zonas eleitorais em áreas dominadas por milicianos não foram realocadas pelo governo Wilson Witzel (PSC) e essa situação inviabiliza a entrada de candidatos nesses locais. Os eleitores serão obrigados a votar em quem os milicianos apontarem.

Aliás, os candidatos precisarão de muita habilidade e conhecimento das redes sociais para chegar ao eleitor. Com a pandemia e o medo da contaminação, só se verá propostas e/ou currículos pela internet. Com tanto fake news por aí, o desafio é parecer convincente.

O caminho para a solução para o TSE ainda é melhorar o combate ao contágio pelo novo coronavírus, reforçar os equipamentos e os cuidados com cada pessoa exposta e fiscalizar os desmandos cometidos hoje. Estes precisam de punições severas contra a desobediência.

Esse processo passa por uma ação que coloca dois lados extremos em confronto e em conflito. Mesmo assim, vale a pena se se quer que este país avance com essa eleição. Do contrário se terá um dos pleitos mais esvaziados da história e com resultados nada positivos para a comunidade.