09 junho 2020

O gosto de empadas


As empadas de palmito sempre foram as minhas preferidas desde criança
e já fiz loucuras por elas, como relato neste texto

Gostava de empadas, principalmente as de palmito, desde muito pequeno.

A primeira vez que comi uma senti um gosto inesquecível, que me enchia a boca d'água de desejo toda vez que me lembrava.

Só havia um problema. 

Empadas custavam muito caro e eu não tinha dinheiro para compra-las quando pequeno, nem meus pais tinham. 

Parece estranho dizer isto, mas não é. 

Não tinha dinheiro porque não queria comer apenas uma: o meu desejo era me empaturrar de tanto comer empadas.

Esse exagero era uma coisa que me perturbava desde pequeno também. Tudo de que eu gostava muito eu queria muito.

Era como se a satisfação viesse com o exagero. Uma vez um médico me disse que comer em exagero é reflexo de ansiedade.

- O ansioso não se contenta com o mastigar leve e pausado de que é feito o saborear. Precisa encher a barriga para se sentir cheio.

É verdade. 

Depois disso, passei a pensar no quanto era ansioso e no porque era ansioso e descobri que era medo de perder. 

Era isso mesmo: eu tinha medo de que me tirassem o gosto bom das empadas e queria comer muitas para que ficassem para sempre.

Um dia deixei o emprego de tintureiro e recebi os meus direitos. Não era muito. Nem me lembro quanto. Talvez fosse a um menino. 

Mas não tive dúvida.

Comprei toda a produção de empadas de um bar próximo do emprego. Devia ter umas 15 ou 20. Comi desesperadamente tudo.

Foi a coisa mais gostosa daquele tempo.

Hoje não como mais empadas por causa desse dia. Aprendi que perco a comida mais deliciosa apenas quando não saboreio.

Assim é na vida também: nada de ansiedade.