13 julho 2020

Funilaria virtual

Os desafios deste momento de pandemia são novos, mas quem está no mercado
já enfrentou muitos outros tão difíceis quanto os de agora



Herança sempre divide herdeiros. 

Quando se trata de uma empresa então, muito mais. Há os que querem continuar o sonho de um pai, um avô ou até mesmo um bisavô. Mas há os que preferem vender tudo e fazer dinheiro. 

Douglas, um amigo funileiro que conheci ao acaso ao fazer uma pergunta sobre o preço do reparo de um para-choque, viveu a segunda hipótese, após a morte do dono da oficina em que trabalhava. 

Os herdeiros resolveram vender tudo assim que o enterro terminou. 

- Ninguém queria continuar o negócio, porque ninguém entendia nada dele. Só eram parentes. Nunca acompanharam nada do que o velho Alfred havia construído, disse o funileiro quando me contou a história. 

De repente, Douglas estava desempregado após quase 40 anos ininterruptos servindo aquela funilaria. 

O desespero foi o primeiro. Perdeu o sono, ficou com o estômago embrulhado, a garganta seca. Não havia caminhos. 

Uma pessoa com 40 anos de profissão hoje no Brasil dificilmente se recoloca no mercado. Havia uma família para sustentar ainda. Após educar e encaminhar os filhos, vieram os netos. 

Mas Douglas encontrou a saída. 

Conhecido na cidade e com uma atuação invejada, ele passou a alugar as oficinas de outros funileiros pagando uma pequena taxa. A estratégia deu tão certo que hoje ele não quer outro plano de negócio. 

Consegue faturar 80% do que conseguia antes, mas não tem 70% dos problemas que os donos da empresa tinham de administrar. 

A oficina virtual de funilaria é um sucesso. 

Quem não se reinventa, não se sustenta.