23 maio 2020

O aumento da violência doméstica na pandemia


Registros do Conselho Municipal Antidrogas de Salto mostram aumento
de 51% no número de agressões praticadas contra mulheres na quarentena


Na edição deste sábado, Taperá traz um dado bastante preocupante para esse momento de pandemia: o aumento do número de casos de violência doméstica em virtude do isolamento social. De acordo com os dados do Conselho Municipal Antidrogas, entre janeiro e maio deste ano o número de casos chegou à média de 1,38 por dia, 51% acima do registro no mesmo período em 2019, que estava em 0,91 ocorrência por dia.

O mais grave é que o órgão avalia ainda que grande parte das ocorrências não entrou nessa estatística por ausência de denúncia formal junto à autoridade policial devido ao medo do agressor. Afinal as vítimas estão presas em casa com o seu agressor e não têm alternativa para escapar da violência, seja em termos de lugar para onde ir, seja pelas condições financeiras para viver nessa situação de pandemia.

O Poder Público e as autoridades judiciárias não podem passar ao largo desta situação, tendo em vista que essas mulheres agredidas em geral são mães e muitas crianças estão assistindo essa violência. O trauma de uma agressão, mesmo que apenas verbal, fica para sempre, ainda que haja acompanhamento e tratamento. O que se dirá para uma criança, que ainda não compreende exatamente o que está acontecendo?

Entende-se que é difícil para o Poder Público e para as autoridades judiciárias agirem nessa situação, já que é necessário que o caso chegue ao conhecimento deles e o medo tem evitado as denúncias e também, com a pandemia, é necessário levar em conta ainda a sobrevivência da mulher e dos filhos nessa situação, mas é possível sim criar condições para minimizar esse problema e amenizar a dor dessas vítimas. 

Uma maneira seria a Prefeitura criar um abrigo temporário para essas mulheres e filhos com assistência multiprofissional para reparar o dano causado pela violência e reencaminhar essas pessoas para a vida. Ao mesmo tempo instrumentalizar melhor a Guarda Municipal para agir contra o agressor no sentido de retirá-lo do convívio com essas vítimas, para preservar a todos, elas da violência e ele de fazer o pior.

Mas esse homem não deve apenas ser preso e responder pela agressão, já que o fato de ser homem não lhe dá o direito de agir com violência nem com a mulher nem com os filhos. Este homem deve ser tratado como uma pessoa doente que precisa recuperar-se. Precisa de tratamento psicológico para compreender o que está fazendo e a importância de rever os seus conceitos para conviver em sociedade.

Isto é o mínimo.


Artigo publicado na seção de opinião do Jornal Taperá de 23-05-2020.