30 junho 2020

Mais uma vez o oportunismo

A recriação do horário eleitoral, proposta por deputados federais, pode custar mais 
de R$ 476 milhões aos cofres públicos, conforme avaliação da Receita Federal com base no último pleito



Deputados federais fazem mais uma vez o jogo do oportunismo ao negociar a aprovação do adiamento da eleição, de outubro para novembro deste ano, em troca da volta da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. 

Não cabe discutir agora esse retorno. O ponto em questão é a adaptação aos efeitos da contaminação pelo coronavírus. Depois, os custos dessa empreitada são totalmente desnecessários e esse dinheiro fará falta. 

Ao que se sabe, a iniciativa para fazer a barganha parte de deputados do Centrão, um bloco informal de centro-direita que se aliou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e teria outros objetivos ainda para por em curso. 

Esses parlamentares estariam contando, por exemplo, com a destinação de mais recursos da União para o Fundo de Participação dos Municípios, o que, automaticamente, gerará mais despesas para os cofres da União. 

O grupo defende o retorno da propaganda eleitoral, porque entende que a propaganda partidária, utilizada nos anos em que não tem eleição, é diferente da propaganda eleitoral, exibida nos anos em que há eleições. 

Para esses deputados, as finalidades são diferentes. A partidária é usada para difundir programas das legendas, transmitir mensagens aos filiados sobre a execução dos programas e divulgar o partido. A eleitoral, os candidatos. 

Mas o objetivo principal é dificultar o adiamento para provocar a prorrogação de mandatos dos atuais mandatários. Esses parlamentares querem que as eleições coincidam com as de governador, presidente e deputados. 

É incrível que ainda se discuta, a essa altura, prorrogação de mandatos em vez de adiamento. Não é democrático e tampouco é saudável esticar o tempo dos atuais prefeitos e vereadores. A renovação oxigena os poderes. 

Os eleitores devem fazer pressão contra esses deputados para que façam o que tem de ser feito e não o que os beneficia, afinal o país precisa agora do adiamento da eleição e de dinheiro para bancar essa pandemia. 

É preciso pensar nas pessoas que perderam o emprego nesse isolamento social. O número de desempregados está em 12,7 milhões no país. E pelo menos 5,4 milhões desse total já desistiram de procurar emprego por não achar. 

A tentativa de prorrogar os mandatos já chegou a passar no Congresso no ano passado, mas o presidente vetou. O veto foi derrubado na Câmara. Só que no Senado foi mantido por dois votos. Agora há essa nova tentativa. 

A volta da propaganda partidária partiu do senador Jorginho Mello (PL-SC). Ele disse que queria o retorno, porque a lei que proíbe partidos de veicularem propaganda paga tem prejudicado muito as legendas hoje.