Presidente vai prorrogar o auxílio emergencial até dezembro, mas o valor ainda não foi definido: só se sabe que não serão os R$ 600 |
Com a absurda campanha que travou contra o combate ao coronavírus desde o anúncio do primeiro caso no Brasil, o presidente incentivou seus seguidores a não respeitarem o isolamento social e a não praticarem outras medidas de proteção, o que certamente elevou o número de casos.
A demora para que o país atingisse a curva de contaminados que indica primeiro a estabilização e depois a diminuição de casos, como ocorreu em outros países, fez com que a crise econômica decorrente da pandemia se agravasse ainda mais, criando mais necessitados de ajuda.
Como consequência, o Congresso mudou os planos da equipe econômica do presidente e elevou os custos consideravelmente. Por exemplo, o plano inicial era um auxílio de R$ 200 e ele subiu para R$ 600, era para ser por três meses e foi por cinco meses e agora terá mais quatro.
Essa mudança de rota não ficou barata. O custo mensal do programa é de cerca de R$ 50 bilhões. Até este mês já custou R$ 250 bilhões. Isto é mais que o dobro do déficit primário (ou seja, o resultado negativo) registrado em 2019. Esse déficit ficou no patamar de R$ 95 bilhões.
Apesar de contrariado pelo Congresso, o presidente acabou não achando ruim de início. Afinal, o auxílio emergencial elevou a sua popularidade. Ele conseguiu chegar a 37% de ótimo ou bom e a sua rejeição caiu para 34%. Aí o populismo abriu espaço para a reeleição.
O problema é que o caminho aberto com o auxílio emergencial precisaria ser continuado com o investimento em programas sociais como o Bolsa Família. Só que não há mais dinheiro para investir e a demanda aumentou muito, o que derrubaria o teto de gastos e abriria uma crise.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que o aumento de gastos e a derrubada do teto levaria o presidente a uma situação de impeachment. Ele ameaça deixar o governo também. Seus principais assessores já estão fazendo isto em uma espécie de debandada.
É preciso lembrar que Guedes foi o trunfo de Bolsonaro na campanha para convencer o grande empresariado. Ele prometeu reduzir a participação do Estado na economia e promover ajustes nas contas públicas. O presidente nunca defendeu essas medidas, mas se escudou no ministro.
A reforma tributária seria uma alternativa e Bolsonaro se apressou a propor uma nova CPMF, além de aumento de tributos na fusão que se prevê. Só que não há espaço para uma tributação maior e os deputados e senadores sabem disso. Portanto, o projeto será mutilado no Congresso.
A única saída viável para o presidente fugir do beco é dar um auxílio emergencial menor até dezembro. Algo entre os R$ 190 do Bolsa Família e os R$ 600. Mesmo assim, haverá um impacto grande. Serão necessárias outras medidas para segurar os gastos da máquina e manter o teto.
O que não se vislumbra em hipótese alguma é não continuar pagando o auxílio emergencial. Com a situação de crise agravada, a interrupção abrupta causaria um caos. Ou seja, o presidente criou o problema, mas quem pagará por ele será a população mais pobre, infelizmente.