30 abril 2020

A barata e o copo

O que parece asqueroso faz parte da vida cotidiana e é capaz de
mostrar um lado que nunca foi imaginado


Uma barata grande,
desajeitada,
percorre toda a boca do copo,
melado de açúcar,
como se estivesse apaixonada
pelo doce.


Como se ele fosse
o seu amor.


O copo imóvel,
molhado pela calda,
parece que se esquece
da vida que ali se esbalda.


As lambidas secam a boca
e o açúcar desaparece.
Então aquela relação
perde a emoção.


Um tirou do outro
o que o outro tinha.
O primeiro seca, definha.
A sina do segundo
não é menos trágica.
A lâmpada mágica
se desliga.


O escuro cobre o palco.


Não há mais ardor:
amor precisa de liga...