29 julho 2020

Liderança exige preparação



Lula não se tornou presidente por não estudar, mas apesar de não ter estudado.
É claro que ele é um caso que está na exceção, Então se prepare sempre



Quando meu filho era bem pequeno e viu Lula como presidente do Brasil, ele me disse: 

- Pai, não vou mais à escola. 

- Como é? 

- Olha o Lula: não estudou e virou presidente. Por que eu tenho de estudar, se nem quero ser presidente? 

Fiquei perplexo com a conclusão dele. Ser pai é enfrentar desafios constantemente, mas talvez a maior dificuldade seja ter a resposta certa na hora certa. Quase nunca dá. 

- Sente aqui: vou te contar uma história. 

- Não adianta, você não vai me convencer. 

- Só ouça e depois me diga o que concluiu. 

- Manda lá. 

- Quantas pessoas você conhece que estudaram para valer e nunca foram nada nessa vida? 

- Nem vem com essa. Estou falando do Lula. Ele não estudou e virou presidente. É isso que você precisa ver. 

- Está bem então: vamos falar do Lula. Você acha que alguém chega a ser presidente de um país sem nenhuma preparação? E eu não falo só do estudo. Existem várias situações que formam um líder. Lula não caiu lá de paraquedas. Você conhece a história dele? 

- Mas ele não estudou pai. 

- Sim, não teve oportunidade para estudar e se tornar uma pessoa letrada. Quando isto acontece, precisamos substituir a falta pelo que temos e transformar o que temos naquilo que vai suprir o que falta. 

- Não entendi. 

Passei então a mostrar a ele como se forja um líder como Lula foi e é até hoje, embora eu não seja seu seguidor nem defensor, e como ele chegou à Presidência do Brasil, um país continental, mesmo sem ter estudado. 

Um líder precisa ter confiança em si mesmo, precisa conhecer o seu meio e precisa ter capacidade de inspirar os demais por meio de uma comunicação eficaz e eficiente. 

Todo mundo é igual fazendo o que todo mundo faz. 

Ser diferente é fazer o que ninguém faz. 

Em 1979, os metalúrgicos do ABC deflagraram a primeira greve geral de uma categoria urbana, depois do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil em 1964. 

Essa greve foi liderada por Lula, que fazia o diferente. 

A campanha salarial da categoria vinha na esteira de várias greves localizadas deflagradas desde maio de 1978. 

Mas a Federação dos Metalúrgicos, que coordenava a campanha e reunia 34 sindicatos do Estado na época, propôs aceitar os 44% de reajuste oferecidos pela Fiesp, bem abaixo do reivindicado, que eram 78,1%. 

Lula levou cerca de 113 mil trabalhadores a cruzarem os braços em São Bernardo e Diadema, acompanhados por 47 mil de Santo André e região e mais 25 mil em São Caetano. 

Depois de demonstrar coragem para fazer o diferente, Lula mostrou criatividade na comunicação na primeira assembleia durante a greve, realizada no dia 13 de março, no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo. 

Ele falou para mais de 60 mil trabalhadores de cima de uma mesa e, como não havia sistema de som, pediu que suas palavras fossem repetidas pelas pessoas que estavam na frente para as detrás e assim sucessivamente até chegarem a todos e aconteceu de forma impressionante. 

A Fiesp pediu o julgamento da greve no TRT, que a considerou ilegal e fixou o reajuste em 44%. Mas os metalúrgicos resistiram seguindo Lula. No domingo, dia 18 de março, trabalhadores e suas famílias realizaram nova assembleia no Estádio de Vila Euclides com 80 mil pessoas. 

A partir dessa manifestação, a população passou a apoiar o movimento. Houve repressão, a diretoria do sindicato presidido por Lula foi destituída e o ministro do Trabalho interveio em três sindicatos do ABC, mas em maio os metalúrgicos conseguiram 63% de reajuste. 

Para ser um líder, não bastam apenas as qualidades já elencadas acima, é preciso também ter persistência. 

Lula se tornou um líder conhecido nacionalmente com o movimento de 79 e depois com a fundação do seu partido, o PT, que ganhou as ruas já na campanha Diretas-já e foi crescendo junto com seu líder na trajetória política. 

Em 1986, ele se tornou o deputado federal com a maior votação do país para o cargo à época: 650 mil votos. 

Em 1989, tentou a presidência pela primeira vez e foi derrotado por Fernando Collor de Mello (PRN) no segundo turno por uma margem muito pequena de votos: 53% a 47%. Mas não desistiu. Em 1994 e em 1998, voltou a concorrer e voltou a perder, ambas no primeiro turno e para Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Mas não desistiu. 

Em 2002, elegeu-se presidente pela primeira vez, derrotando José Serra (PSDB) no segundo turno. Na eleição de 2006, foi reeleito ao vencer também no segundo turno, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). 

O que disse ao meu filho é que Lula não se tornou presidente por não estudar, mas apesar de não ter estudado. É claro que ele é um caso que está na exceção. 

O que não é fora da curva é fazer o que tem de ser feito: estudar, se preparar e estar apto quando a oportunidade surgir para poder aproveitá-la na sua integridade. 

Felizmente, ele se convenceu e continuou a estudar. 



O apresentador Rodrigo Bocardi com a companheira de bancada Glória Vanique
e ao fundo o sindicalista Altino de Melo Prazeres Júnior


Por falar em liderança, outro líder sindical mostrou nesta terça-feira (28) a importância de se preparar para o cargo. 

Entrevistado por conta da convocação de uma greve dos metroviários, que foi suspensa na madrugada de terça, o sindicalista Altino de Melo Prazeres Júnior, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, surpreendeu o jornalista Rodrigo Bocardi, âncora do “Bom Dia São Paulo”, da TV Globo, ao vivo, ao demonstrar que estava preparado para as perguntas que viessem, por mais ideologizadas que fossem, e acabou viralizando na internet. 

O apresentador questionou se havia legitimidade para realizar greve durante a pandemia do novo coronavírus, na qual muita gente perdeu o emprego ou teve redução de salário, e o sindicalista lembrou de reportagem do G1 (que pertence à TV Globo) sobre o crescimento do patrimônio de 42 bilionários brasileiros, em 34 bilhões de dólares, durante a pandemia, enquanto os trabalhadores arcam com os impactos negativos gerados pela covid-19. 

Por fim, arrematou: “É justo os mais ricos, os bilionários desse país, ficarem mais ricos na pandemia? Tá errado. A luta dos metroviários foi para resistir, para que a gente mantenha o nosso nível de vida. A pergunta é: por que os bilionários ficam mais ricos e os trabalhadores têm que pagar o custo desta crise que eles mesmos criaram?”. 

Que não se subestime ninguém nesta vida.

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