15 agosto 2020

Uma cabeça por uma rosa

O então prefeito de Sorocaba, José Crespo, oferece à vice, Jaqueline Coutinho, uma
rosa para selar a paz entre eles após dois meses de disputa com troca de acusações



Há exatos três anos, em 15 de agosto de 2017, tive de tomar uma decisão difícil para que uma ação minha de marketing político desse o resultado que eu esperava.

Estava secretário de Comunicação e Eventos na Prefeitura de Sorocaba e precisava acabar com uma polêmica disputa entre o prefeito e a sua vice. 

Havia dois meses que Jaqueline Coutinho (PSL) denunciara José Crespo (DEM) por contratar uma assessora sem diploma universitário, que era exigência legal. 

Já havia conversado com os dois para terminar com o impasse, uma vez que a investigação sobre o diploma estava em curso e teria uma solução, mas ambos resistiam. 

Adversários transformaram as falas do prefeito a respeito em ataques à mulher e não à acusação da vice. Aquilo desgastava enormemente a imagem do governo. 

Como teríamos o desfile dos 363 anos de fundação da cidade no dia 15, conseguimos alguns botões de rosa e propus que o prefeito os oferecesse a mulheres no evento. 

Seria um gesto para mostrar que ele não era agressivo ao sexo feminino como a oposição pregava e também um termômetro para testar o quanto a polêmica afetava. 

Mas a estratégia caiu por terra quando a vice, apoiada por professoras contrárias a Crespo, surpreendeu a todos desfilando em uma escola municipal como protesto. 

Ao vê-la vestida de preto com uma faixa na qual dizia que nem toda violência é física e nem toda cicatriz pode ser vista, tive de agir rapidamente, apesar do risco. 

Vice-prefeita Jaqueline Coutinho surpreende a todos em desfile de aniversário
 de Sorocaba ao sair em uma escola com uma faixa de protesto



Disse ao prefeito: invada a rua e ofereça uma rosa a ela. Ele retrucou: não, ela vai recusar e eu vou ficar desmoralizado. Insisti: garanto que não recusará. 

José Crespo é ousado, mas a vice o tinha encalacrado. Para convencê-lo, coloquei meu pescoço a prêmio. Disse: se ela recusar, eu me demito. Ele escondeu a flor e foi. 

A vice se desmanchou em lágrimas e entendeu o gesto como sinal de entendimento. Marcaram uma reunião de acerto para o dia seguinte. A imprensa estampou o gesto. 

Não aconselho a nenhum profissional de comunicação ou marketing arriscar tanto, mas eu tinha de ser convincente. Você só resolve problemas se se envolver com eles. 


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